sábado, 3 de agosto de 2024

A bailarina de pano

Pequena e bela
de sutis traçados por fina linha
esvoaçava em juvenis mãos.
 
Mas, num enlaço ríspido,
romperam-lhe os pontos
da perna direita.
 
Atribuíram a pecha
de canhestra desfigura cambaleada
e a enterraram no fundo do armário.
 
No rasgo da silensolidão
ela paciente tateou o escuro
por séculos e ísolos.
 
Suas mãos de algodão
amealharam estofo, linha e agulha.
Encheu-se do tecido do mundo
e se libertou dali dançando para si própria.
 
Caio Bio Mello

01/08/2024

Perene anverso

Encramunhado
em ti
agora vejo isto só.
 
Desconheço se é o que resta
ou o que reveza ou
desbanja e abandona.
 
O avesso é versão vista?
Ou o betume vasto
se expusera já
a mim recôndito?
 
Assim, basta e basto.
Asco.
Seja têmporo ou temporão,
igual será – te asseguro:
os grãos que entregaste são de sal
e frutos sufocam em terra seca.
 
Caio Bio Mello
03/08/2024