segunda-feira, 23 de junho de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Prece

Meu Deus,
por que esqueces
os filhos teus? 

Sexta-feira 13

Leva-me, eu imploro. 
Arranca-me deste mundo,
desta carne, desta alma.

Suplico-lhe: permita-me partir
e permanecer 
no eterno silêncio. 

Não consigo, não posso.
Apesar de eu ser insignificante,
o fardo é gigantesco. 

Não consigo mais me misturar,
não tenho mais a capacidade
de conviver.

Já não pertenço a mais nada,
a lugar nenhum.
Nem mesmo a uma ideia qualquer. 

Por amor a mim,
tira de meu peito o que sou. 

Se puderes, de alguma forma,
decepar-me para que eu possa 
pertencer,
prometo que me manterei vivo. 

Mas a minha máscara,
nesse maldito status quo,
já não mais se sustenta. 

As pessoas estão vendo quem sou. 
Notam que não faço sentido,
percebem que sou anormal. 

Por favor, eu preciso de calmaria!
Os ventos precisam amainar,
as paredes precisam parar de derreter!

Por que as coisas não fazem sentido?
Por que não consigo mais me curar? 
Por que continuo nisso? 

Por que não posso 
simplesmente não sentir? 
Um universo de sensações,
sentimentos, instintos...

Não sei nem definir o que é. 
O que me define é a manutenção
do desejo do não mais ser. 

Não consigo mais suportar
tudo isso. 
Não posso mais olhar para frente
e fingir que tudo é normal,
em sua plenitude.

Não posso porque nada existe! 
Nada!
É tudo um grande circo. 
O mundo é insustentável!
Ele não funciona.

Se eu existo é por acidente. 
Eu não deveria ter existido. 
Do começo ao fim,
erro por erro, gota por gota. 

Não posso, não posso.
Simplesmente não posso. 
Admito: sou absurdamente falho
e sei que nada vai sobrar. 

Não vai sobrar corpo,
nem ossos, nem lágrimas,
nem caixão, nem lembranças,
nem lirismos.
Nada. 

É por isso que te suplico. 
Preciso ir agora, por favor. 
As coisas se desmontam agora 
e o mundo permanece 
num perfeito caos 
que me engole e me consome....
Eu não vou sobreviver assim. 
Leva-me. Se tu me amas, leva-me. 
Do contrário, teu amor é mentira. 

Caio Bio Mello
13/06/2014