sábado, 7 de maio de 2016

Rearquipélago

Depois de tantos anos,
ardeu em mim sem propósito nem origem
as saudades pelo mar.
Eu, severo entranhado na velhice,
voltei a sentir.

Logo pensei em nadar de braçada,
escalar as águas com os meus dedos.
Mas, depois, lembrei de minha jangada
que deixei na pilha dos meus segredos.

Singrei o mar sem razão para nada
sem contar a ninguém do meu degredo,
mas ciente do motivo da jornada
que já me motivava desde cedo:

eu queria ver o Farol do Arquipélago de Noventa
uma última vez.

Aquele lugar voltou aos meus sonhos num repente, numa escaldante noite de verão. Furtou-me as vistas e eu não podia sonhar com outra coisa.

Era meu único motivo a voltar para o oceano.

No caminho, numa madrugada de lua cheia,
ao brilhar na imensidão,
eu juro, desdigo a razão,
com certeza vi um dragão.

Escamas douradas davam na vista,
o corpo esguio, vermelho e delgado
brotava d’água. A figura mista
vinha veloz num deslizante nado.

Dragão quebrava das ondas a crista
e vinha de encontro ao meu embarcado.
Eu, sem nenhuma de saída pista,
supus que morreria deslembrado.

Mas a figura, então, virou criança.
Pensei que seria um tipo quimera,
que se enterrou lá fundo na lembrança
e revirou minha vida, outra era. Lembrei-me das tardes de sol, em que me deitava no jardim e admirava as nuvens passando, ao imaginar o alcance do azul do mundo.

Eu mergulhei em mim e, talvez, desci às espumas.
Refui peixe por instantes
Talvez momentos, profuntlântico respirante
                                               Uma ideia, outro instante
            Minha eujangada, os dois, nas escamas douradas

Meu desejo, Quimerorreparada

A flor que desabrocha
no leito do mar
(a fissura dos mundos)
ao perder-se no rioceano

Expurgo

Lábios secos. Sol forte.
Grãos de areia se aninhavam em meus dedos.
Abri meus olhos.

Ao topo do morro, poucos metros adiante,
eu vi, pela última vez,
o Farol de Noventa.

Caio Bio Mello
07/05/2016

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