domingo, 13 de novembro de 2011

Magia


O que me levou a escrever esse texto foi minha inquieta busca pelo significado da arte. Por que gostamos de arte? Por que não nos cansamos de ouvir música? Por que nos arrepiamos quando ouvimos uma música que gostamos? Por que choramos quando vemos um filme emocionante? Para que servem essas sensações? Qual a efetividade disso tudo? Sei que qualquer concepção extraída de meus pensamentos jamais será conclusiva, não é esse meu intuito. A arte nunca foi feita para gerar conclusões.
A arte está aí para gerar um sentimento de liberdade nas pessoas, uma sensação de infinito, de união. Nós vamos ao cinema porque queremos sentir. Vamos ao cinema porque desejamos encontrar algo que não encontramos em nossa vida cotidiana. Queremos a ilusão do real, a loucura de nossa própria realidade, queremos as sensações mais limítrofes caricaturizadas em músicas, sons, imagens, sentimentos, palavras...
E foi nesse momento que tive uma sensação. Onde está a arte? Onde está a beleza do infinito? Num mundo contemporâneo de ateus e incrédulos, como pode a arte ainda manter-se imponente a cada geração? De onde vem esse desejo pelo deslumbramento?
         O lirismo não está nas coisas. As coisas sem nossos olhos, sem nossas palavras, sem nossos pensamentos, simplesmente não existem. Antes de existir o homen, a pedra não era pedra. Não era nada porque não era viva nem era palavra. Não era nem sequer pedra. As coisas são coisas porque assim as chamamos. Então, o lirismo está dentro de nós.
O verdadeiro deslumbramento, a verdadeira magia, a última e perfeita liberdade está em nós mesmos. A magia não está nas ruas, não está no chapéu do truque, não está na mulher serrada ao meio. A magia está em nós.
         Nossa verdadeira liberdade está em nossa existência. Tudo que o artista pode fazer é buscar incentivar a arte das pessoas a se libertar. Ele busca nos meandros de sua própria alma aquilo que pode alimentar a alma alheia. Não é um número, muito menos um cálculo. É um repente.

Jofro sensato
de sentimentos
que se buscam, se enlaçam,
raiam com o dia na manhã de nossos olhos.

As grandes loucuras, as grandes conquistas estào dentro de nós. Os heróis, as montanhas feitas de açúcar, o homem do saco, o saci-pererê, a mula-sem-cabeça, o homem de ferro... Tudo é feito com um pouco do que somos. E essa é a maior magia de todas. O mundo nasceu para ser real. Ele foi criado assim. Mas nós nascemos para o abstrato, nascemos com desejos que não se realizam com a própria carne. Nascemos propensos à metafísica.
E é nessa junção que a arte nunca vai deixar de existir. Ela preenche os momentos que precisamos de paz. Preenche as lacunas de nós mesmos que deixamos sem mesmo o perceber. É ela que inibe a inutilidade com a música nos momentos de trânsito. Cessa o marasmo com filmes em domingos à tarde. Ou ainda, serve de plano de fundo para lembrar aos homens que são imensos com um quadro de jardim pendurado na parede de uma sala. É o lirismo cotidiano servido em linhas dosadas para alimentar as cabeças que pensam.
Todos pensamos, todos sentimos, todos desejamos algo mais. Matar em nós a arte, qualquer manifestação dela que seja, seria perder em nós o que nos há de humanidade. Um gosto terreno de carne misturado com uma nuvem que paira sobre nós, que nos une, que nos faz união, que nos faz artísticos. Continuamos todos juntos através da arte. Há sempre aquele cerne imutável de conteúdos os quais a arte vai representar. As gerações mudam, as formas de manifestação mudam, mas os temas são iguais. O amor, as saudades, a solidão, a morte... Tudo que nos é interno será também eterno. Nossos bisavós sentiram isso, nossos pais sentiram isso, nós sentimos isso e nossos filhos também sentirão. É um elo de humanidade que não há como ser negado, não há como ser abandonado e que nos fará humanos para toda a eternidade.
E é por isso que a magia da arte nos une, nos torna coesos, nos torna iguais. Ela nasce nos momentos que alcançamos o mundo e morre quando nos para o coração. Ela está aqui, dentro de nós. E nos aquieta como um espelho do mundo.

Caio Mello
13/11/2011
           

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