segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Schattengarten

 Desconheço teu

            jardim

de espinhosos meandros.

 

Os galhos cospem

            a seiva de piche.

 

Rastejam quadrúpedes veículos

                        com motores rasgantes de audição.

 

Já perdi minhas chaves nas folhas

                        entre a relva e o carvão

                                   dos caminhos que desfamiliarizo.

Na selva, não encontro portão.

A perda a resvalar entre releva ou revela.

 

Mostram-se translúcidos atos fuscos

            entremeados na fumaça (tropical fog).

 

Não sei mais discernir

            e meus pulmões, que antes enchiam,

                        chiam sons estridentes.

 

Restam meus dedos

            que cravejo fundo no solo putrefeito.

Enraízo minhas falanges na ânsia por osmose,

                        mas não há absorção.

            Eu, absorto, observo. Então, cavo.

                        Rasgo um vácuo novo, recente,

                                   e descasco aquela terra imunda

                        até abrir rombo o suficiente

                                   para dar à minha sombra a merecida cova.

 

Caio Bio Mello

21/12/2020