quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Soneto de solitude



Sinto não ser parte de minha carne
Sou nesga de uma alma corroída
Que não sabe se morre na partida
Ou se vagabundeia sem alarde

Sou da solidão mais escura parte
Cru silêncio que impera e me intimida
E devora, carnívoro, a ferida
Fazendo do podre cadáver arte

Eu me sufoco por falta de afeto
Deformado o ser, se define abjeto
Busca no frio carícia aleatória

Mas que jamais conquistará resposta:
A matéria já está decomposta
E a solidão não deixa escapatória

Caio Bio Mello
26/11/2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mareumoto



A chuva negra me escorre pelos cabelos
e eu sendo triste e pouco e parco
já no primeiro ato
sou o silêncio da garganta rouca.

Os dedos engarreados que riscam a alma
no plano do mundo
onde pequenos ovos densos
povoam a pele com o frio da madrugada.

Na imensidão do nada, eu fui vazio
Trapo jogado no chão da cozinha
Ter o meu nada era só o que eu tinha
Enquanto arfava o meu peito no frio

Pois razão não há na vida sozinha
Peixes sufocados fogem do rio
E se debatem pelo olhar sombrio
Nessa vida que quis chamar de minha

Epiléticos músculos defuntos
A podridão densa desse meu verme
Me habita por debaixo da epiderme

Inúmeros globos, muitos conjuntos
O meu cadáver de temperatura
Única carne que ainda me atura

Enveredam desjuras pelas minhas veias.
O verbo que não segredei no momento oportuno.
A profana responsabilidade de um único fato,
imensidão contígua de minha existência.

O crânio oculto que me resta – que se ressalta.
Sereno e oblíquo, projeta-se neste meu antiquerer
perpetuado pela condição enferma do lirismo.

Olhos abertos na noite. Primeiro a vista. Depois o açoite.
Minhas profundezas, meus oceanos, quem os conhecem de fato?
Sou mero boato de cores quentes. Primário réu em forma de feto.

O umbilicalismo profundo. Sustento-me ainda.
Nada de cigarros, não os fumo.
Mas há nicotina o suficiente por detrás das orelhas.

A pele dura. O homem flácido.
O coraconstelação infinito que se desdobra e se perde.
A supernova possante do vindouro buraco-negro.
Não nego.

Me sobram as cinzas
Assim tão depressa
Como se meus dias
Fossem a mentira
Muito bem contada
Pelas mãos da bahiana na maestria da concepção do acarajé.

Restam-me os mareumotos, e eu em uma nau ao deus-dará,
desviando dos penhascos e dos excessos sentimentais.
Porque ainda sou.

Caio Bio Mello
25/11/2014





domingo, 23 de novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014