quinta-feira, 31 de julho de 2014

domingo, 27 de julho de 2014

Rotine-se

Vai-te, corpo,
Ei-lo ensimesmado
Certidão da alma 
O prumo dos tempos 
Como se não houvesse beiras
Nem erros a serem redimidos 
Nem respostas questionadas. 

Mais um dia 
Outro braço 
O alarme soa na sequência 
Ressecados olhos se abrem 
Como referência 
O farol da vida 
E a verdade da labuta.

Pés doloridos em sapatos 
(Coloridos) 
Como vã vontade de preencher 
A liberdade da grama 
(Desprovidos)

Num sopro
Poço e volta 
Está de retorno 
Um cáli-se de vinho ao jantar 
Um respeito mútuo 
Entre o homem e o álcool. 

Pendularmente retornam 
Os olho a fecharem-se
(Esquecem-se os prazos)
Já quietos 
Vislumbrando outros mundos 
Sonhos, universos e versos 
Todos nus 
Felizes na convivência 
De uma madrugada qualquer.

Caio Bio Mello
27/07/2014

Quarta canção de dormir

Deito-me cansado 
Os sonhos se multiplicam
Asas ao meu lado.

Caio Bio Mello
27/07/2014

Tocar o chão

A pétala 
Cadente 
Que sopra
Giratória 
Que sofre
Serena 
Flutuante
Desregrada 
Desconhecida 
Revolta
Finda. 

Bio 
27/07/2014

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O pequeno poema



Eis o poema recôndito
com suas dobras, redemoinhos e voltas.
De perto, já não é quase nada.
De longe, uma silhueta ao luar.
Poeminha pouco,
grito rouco
de peito louco.
Pobres versos claudicantes
mancos da perna
e cegos dos olhos.
Pequenas palavras
que debilmente
se livram do que há
de humanidade em mim.
Este poeminha parco
que assim do tão nada
de tudo que se queira
já veio ensanguentado
(qual sangue da mão ou
da berne embalada a vácuo).
Poeta que se queira
se sabe pelo desejo
pelo vício imbuído na alma
nunca por egoísmo
ou simples vaidade.
Então, kleines Gedicht,
não te desrespeito.
Há falta de mim em minha carne
é isso que se perde no todo.
Por isso te desejo tão bem.
Essa tua ausência de literatura
que seja digna de análise dos mais
consagrados críticos
me dá um orgulho absurdo de ti.
Porque és errado feito teu pai.
Torto por dentro,
alma vergada pela vida e pelo vício
na desvairada ideia de seguir vagando
pelo que deveria existir de real.
Te admiro, meu petit poème.

Caio Bio Mello
24/07/2014


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Só isso

Acontece
No repente da alma
No silêncio do dizer
No tédio da rotina 
No silêncio do peito 
Na rosa púrpura 
Nos homens primitivos
Nos velhos mancos
Nos galhos retorcidos 
Nas fotos amareladas
Nas frases não ditas
Nas palavras duras
Nos corações moles
Nas dores do corpo
No canto do peito 
Esse buraco das nuvens perdidas
No não-dizer do que eu disse 
Entre nós, existe tu e eu 
Sempre a rodar
Na eterna cadência 
Que a vida nos proibiu 
De sonhar 

Caio Bio Mello
23/07/2014

The ultimate silence


I see words in decay
And silence hills ahead

No more life
Nor fear or pain 

I see a blazing glory
Casting sun upon clouds

Rocks and blood
Amongst shattered dreams

Voices quiet as tombstones
"Requiescat in pace"

Worms eating ideals
Dogs barking to nothingness

Obvious oblivions
Uttering pain

Floating eyes
On the riverside

I lose my breath
Finally! 
I don't want to see no more

Caio Bio Mello
23/07/2014

sábado, 19 de julho de 2014

Daddy talks

"Can you hear it, son?
It's the sound of death
creeping towards you."

Caio Bio Mello
19/07/2014

Wondrous life

Life is raw madness
Irrational fears
Burning rages
And - to make it even worse - 
When it ends
We all become rotting corpses

Caio Bio Mello
19/07/2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

A desarte de viver



Eu
o demônio recôndito em mim.
O eterno pesadelo preso em uma miríade de sentimentos
sem significado
sem início e sem fim.

Um ser errante, fraco – incompleto.
Controverso fracasso
sem bordas, sem sol raiantes
sem sucessos.

Eu.
Infinito sentimento do topo das montanhas
às profundezas do inferno.

O que não conheço, o que não vejo,
o que não aceito, o que não quero aceitar.

A injustiça do mundo que me perfura a pele.
Olhos perfurantes que me irritam, que me causam ódio.

Deus, por que és Deus? Quem foi que deu a ti este direito?
Estás por toda parte e, ainda assim, em lugar algum.

Sei que me desfaço. A cada dia mais, sei que sou menos.
Tenho a consciência de que sobro em farrapos.
Não tenho ambições, não tenho desígnios.

Estou debaixo da água. O mar é profundo e verde.
Ao longe, minhas débeis mãos agarram-se fracamente a uma corda.
Solta, Bio, solta a corda.
E eu solto. Meu corpo, pesado feito uma rocha,
afunda pela imensidão das águas escuras.
Posso sentir o frio rasgando meu corpo.
Fecho os olhos. Meus pulmões enchem-se de água
numa última tentativa desesperada de sorver um pouco de ar.

Mas ar não existe. Não existe mais o mundo.
Há janelas e cálculos.
Ocorrem eventualmente bolhas de consciência.
Aqui e ali – ainda me encontro.

Estupefato, vejo-me no reflexo do vidro do carro.
A besta encontra o homem. (qual deles é a besta?)
Ali, naquele exato momento,
tudo desaba como mil paredes e mil cores
e mil universos concatenados.

O gigantesco castelo de cartas do eu-lírico.
O eu-soterrado.
A sete palmos de terra continuo preso.
(aqueles versos ainda não me deixaram)

Resta-me, ao canto do prato, a indecisão.
A incerteza. Uma dor no estômago.
Não há mais caminhos, nem realidades,
muito menos realizações.

O tempo passa. Ou melhor: salta.
Encara-me o calculista relógico digital.
Não me resta muito.
Não por falta de tempo! Mas pela consciência de
saber que o quanto me pertence
é pífio se comparado à quantidade de batidas de coração
que ainda tenho.

Do tudo que tenho sei que me restará pouco.
Poucas risadas. Poucas tardes de sol.
Poucos abraços de amor. Poucas cartas de saudade.

Mas as cicatrizes, guardo-as aos montes.
São meus troféus. A cada dia pioram
a cada dia mais dilaceram minha carne.

Aos poucos, percorrerão todo meu corpo.
Deformar-me-ei de tal sorte que
ninguém mais poderá me reconhecer.

E, eu, o ignoto monstro horrendo,
poderei – na beleza do desconhecimento –
começar de novo. (quem sabe?)

Caio Bio Mello
15/07/2014