domingo, 30 de junho de 2013

Pesadelos



Hoje eu tive pesadelos
que domaram o meu sonho.
O carro, esse veículo
de metal e mais tristezas,
cruzava a rua sombria
numa agressiva corrida
atrás de uma vilã moto.

No auto, o mais belo de mim,
a família reunida.
Todavia, nessa noite,
era o medo que imperava.
Era só um sem-caminho,
sem futuro nem passado.

O quadrúpede pesado
encontra a bípede moto
e num rápido segundo
são dois metais colidindo
em pressa, medo e suor.

Eu, caído em meio à rua,
atordoado vi assalto.
Carro-cadeira-de-rodas
estava bem mais pequeno.
Motoqueiro ensandecido
atirava em meu pai.

Eu não via se acertava;
se errava nem eu desvia.
Um nuvem, então, gigante.
tomou toda aquela cena.

Acordei de madrugada
com os olhos bem abertos
e tudo ficou calado.
O que dizer nessas horas?
Eu disse vai escrever.

Eu, depois, me levantei
e fiquei na escuridão,
tentando encontrar motivo.
Mas não encontrei a lógica
que me dissesse por que
eu sonho tanto acordado
e vivo tanto dormindo.

Caio Bio Mello
30/06/2013

Terra



Papai, o que é o amor?

Vem aqui no quintal que eu te mostro, filho. Vem. Senta aqui na grama comigo. Eu vou cavar um buraco bem pequeno. Agora abre sua mão. Pronto. Isso é amor.

Mas isso é terra que você acabou de cavar, papai.

Isso é amor, meu bem.

Ele é assim de pegar na mão?

Sim, claro! O amor é muito fácil de encontrar. Ele tá espalhado por tudo quanto é lugar, logo na nossa cara. Ele é muito simples.

Mas, então, se o amor é terra, o que é terra então?

Amor é terra e terra é amor.

Mas é só isso mesmo? Não tem mais o que explicar? Todo mundo fala tanta coisa por aí sobre amor. Tem aqueles filmes que eu vejo na tevê, sabe? Sempre tem um mocinho que vai, faz um monte de coisa, corre, corre, corre e depois salva a menina bonita do filme que tá sempre de vestido. E então eles dois se abraçam por muito tempo... E se beijam no fim do filme. Aí passa os créditos. E tem tanta gente falando por aí de amor. Amar é isso, amar é aquilo. Parece uma coisa tão complicada! E você senta comigo... me dá terra do nosso jardim e fala que tá tudo resolvido. Não é assim que se é pai, pai. Tem que explicar!

Quando você tiver seu próprio filho, você vai entender melhor. Amor de verdade é esse assim, feito terra. Não é aquele que eles passam no filme. Amor na tevê é de plástico e só serve pra gente bonita e cheia de maquiagem. Não nós dois, meu bem. Nosso amor é bem pequeno, bem simples. Mas é único. Ele é cheio de acertos, de belezas e surpresas – de vez em quando passa por umas brigas – mas é sempre amor. É o recheio da nossa vida. Tipo aqueles biscoitos que você adora comer.

Mas esse amor não precisa ser gigante, fantástico e sem fim?

Nosso amor precisa ser o que ele é. E sabe por que amor é terra?

Na verdade, eu não to entendendo muita coisa hoje...

Foi nesse mesmo jardim que você engatinhou desde bebê. Foi nessa terra que você deu sua primeira caminhada. A gente sempre joga bola aqui. Foi ali no fundo desse jardim que você andou pela primeira vez com sua bicicleta. Essa terra, pra mim, é amor puro. É tudo o que eu tenho de mais bonito e é o que eu quero guardar pra sempre. Esse amor simples, que foi me conquistando aos poucos. Um amor que você me deu, pequeno. E que me dá a cada dia mais. Eu não preciso explicar pra você. Você me mostrou, desde que chegou nesse mundo, que amar é a coisa mais básica que pode existir. Amor é essa terra. Simples, fácil de encontrar e inexplicável. Ela é terra porque sempre foi. Assim é o amor também. Ele é terra e pronto. Não precisa de propagandas, nem de presentes, nem de mocinhos, nem de bandidos.

Entendi... Pra mim, amor é café.

E por que isso?

Porque você e a mamãe sempre fazem café de manhã cedo. Eu sinto o cheiro quando acordo. Amor é café e pronto. Tá explicado. Simples assim.

Caio Bio Mello
30/06/2013


sexta-feira, 28 de junho de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

Entredentar

A palavra é assim:
Ela existe dentro da boca. 

A gente mastiga, mastiga, mastiga
E de vez em quando 
Faz palavra nova. 

Caio Bio Mello
22/06/2013

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ta(rifa)



Aquilo que ninguém
sabe
Aquilo que ninguém
quer conhecer
O que poucos
admitem
Mas todos
sentem
No meio da
rua
Com as mãos no
asfalto
Com as mãos no
Bolso
Segurando moedas de
TROCA
Porque todos veem
tudo
 Porque tudo tem
preço
Porque por tudo se
paga
Porque aos poucos se
perde
E aquilo que
cresce
Sem o menor
significado
É o que se chama


Legião
Caio Bio Mello
13/06/2013
Obrigado, Renato.
Agora tudo faz sentido.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Paulicéia

Esse é o cheiro da minha cidade:
Chuva caída 
Na madrugada fresca. 

Caio Bio Mello
12/06/2013

domingo, 9 de junho de 2013

Haikais oníricos




Teatro

Chegando de noite
na virada do meu verso
a máscara cai.

Saudades

Se fomos eternos
ou se nós morremos jovens
eu não sei dizer.

Nimbo

Hoje eu sei voar,
conheci uma menina
no meio das nuvens.

Hiato

As pernas de anões
fizeram pular o pântano
das negras tristezas.

Fábricas

Escadas rolantes
em máquinas de brinquedo
são comerciáveis.

Batalha

Vem, pai, eu te ajudo.
A gente já não tem medo
porque é tudo sonho.

Dor

Ontem me doeu
esse canto do meu corpo
que eu nem conhecia.

Humilde

Perdoa meus versos
eles não são tão elásticos
quanto são meus olhos.

Voo

Eu passei voando
naquela noite estrelada
na minha janela.

Manuel

Vem! Vem! Vem comigo.
Nós esquecemos e vamos
viver em Pasárgada.

Caio Bio Mello
09/06/2013