sábado, 20 de agosto de 2016

Titã, uma Lua de Saturno


Ainda és a órbita
de meus sonhos

Raio quente
de estrelas mortas

Por isso, desejo deter
o vagar constante
das constelações
                        a contravolução do acaso
assim te verei
contente de novo

E explodiremos, juntos,
a nossa supernova (perecimento do astro)

Superado o silêncio da explosão,
a                      cosmoneogênese

O brilho púrpura da imensidão galáctica
será nossa morada

Assim se aninham os meus sonhos,
mas deixaste a casa
com as cobertas ainda quentes

Seguiste teu caminho
e encontraste vida (serena) na longínqua
Lua de
Saturno

Eu, não sendo Titã,
Vivo a vida
que era
Tua,
Soturno

Caio Bio Mello
20/08/2016

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Vejo-te, sem ver a ti

Eu te carrego,
dormes tranquilo.
Teu prateado
                        ao vento.

Sonhamos tua voz
            mil palavras
num sorriso.

Eu vejo teus olhos
            que tocam a terra.

Estás num sonho
                                   com a imensidão das lúcidas estrelas
que nos atingem.

Vem a noite e me segredo.
                        Enraíza-te.

Sinto o cheiro serenado da memória,
            sol, almoço de domingo.

                        Encolho-me

o dia.
            Raios de árvore.
            Galhos-luz.

És tronco e folhas.
Sou criança e ouço tua seiva.

                        Aflora-te, primavero.

Lacrimejo tuas raízes,
o sumo que partilhamos.

Eis que frutificam
os bem-te-vis
que desabrocham
agora sei de onde vêm
e os tenho livres
em nosso jardim.

Caio Bio Mello
15/08/2016

sábado, 6 de agosto de 2016

Batacla

DOIS PARES DE BRAÇOS
DOIS PARES DE PERNAS
DOIS PARES DE DEZ DEDOS
NÃO PARAM DE BATER
BATER A TECLA
BATACLA

os pares as mãos os dedos as máquinas o dinheiro
a senha os salários as fileiras o calor

[Há pouco espaço para respirar.
A cada nova arfada,
ele sente o seu próprio hálito,
como um regurgito prematuro.]

CONFIRMAÇÃO
TECLAS VERDES TECLAS VERMELHAS
BOTÕES INDECIFRÁVEIS
BATACLA
COM SUCESSO

Caio Bio Mello
06/08/2016

A flor de pétalas azuis

Traz-me de volta à vida.

A flor de pétalas azuis
que bate asas, sobrevoando o silêncio.

Eu sinto o seu perfume correr
pelas minhas veias,
ouço o uivo de suas pétalas
na dança helicoidal da imensidão.

Conduze-me à luz,
leva meu corpo de volta para lá
de onde eu nunca deveria ter saído

Cá onde estou
                        há labirintos
            caminhos tortuosos
desconheço os limites

Posso despir-me de minha pele agora.

Estar nu comigo mesmo.

Rastejo e, no sangue, escrevo minhas palavras
meus versos

A planta cujas raízes aprofundam-se em meu coração
A cada batida
batida
batida
                                   sístoles e diástoles
batida

É mais forte que o álcool, que os foguetes,
                        é uma fome constante que tenho de algo que me pertence

De cor azul. Assim é o céu, o oceano, a flor. Algum automóvel.
Tenho pernas tortas, pés errantes (errar é humano).
                        Por isso, o bencaule. Meu pedúnculo.

Há um depósito imenso. Todas as caixas catalogadas, numeradas.
                                   Indispensável haver espaço.

É unifloresta, capaz de produzir todo o oxigênio
            de que necessito, por um período de um século.

Dizem que, no auge, é capaz, inclusive, de saciar a fome
            Mas isso ainda não me ocorreu. Sou famélico.

Sou eufórico. Desregrado. Por isso mesmo.

            Talvez, eu tenha perdido muita coisa.
Isso é o ideal. Espremer a pessoa até que lhe reste a essência.
                        Sobrevive a flor. Impressionante.

Caio Bio Mello

06/08/2016