domingo, 5 de novembro de 2017

Cortejo fúnebre

Carregai meu corpo defunto
                        por entre as cinzas ruelas
                                   calçadas de paralelepídedos
            e contratai as melhores carpideiras
que marejarão olhos assentimentais
                        enquanto alguns balbuciam feitos inexistentes sobre mim.

Não impeçais que meu grosso sangue hemicoagulado
            escorra, lento e pegajoso, por meus membros.
                        Deixai que meus últimos líquidos
            atinjam o chão e adentrem as frinchas do piso tosco.

Logo, a subterra inflará
            e vereis
meu rubro desvenulado alimentar
            plantas decrépitas que romperão o piso
e brotarão flores canhestras
            para que libertem, enfim, o cheiro do pólen nauseabundo
que me enojou pela vida inteira.

Caio Bio Mello
05/11/2017