segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Vertente



Gotas geladas
voam em prata como estrelas cadentes.
Os pés segredam uma caminhada depressa.
O homem rajado de cabelos metálicos é sério.

O sonho e o mundo, distorcidos e empenados.
Não há nada além do silêncio e dos faróis acesos.
As costelas vibram arrítmicas,
arfando as tristezas que não cabem no peito.

Ele se depara com a Quimera
Com olhos fortes e asas de morcego
De garras gigantes e o torso negro
Que grita, mata, geme e vocifera

Sabe que nunca mais terá sossego
Ao encarar a gigantesca fera
Rasgando em seu peito enorme cratera
Tirando a vida que tinha de apego

A besta se sacia, multiplica
E se divide em membros decepados
Que crescem tal qual flor de escuridão

Secos, seus olhos estão embaçados
Tristondosa árvore que frutifica
Natimorto seu primeiro varão

O que fazer, então, em plena decadência?
A clausnoitofobia expurgando os vagantes.
Desnorteiam-se os pés. Caminhada dos dedos.

Olhos de vidro desconhecem o novo milênio.
Estão mortos. Reflexovisão paulatina.
O mundo regride. A carne reprime. Aquilo regressa.

[O feto permanece no líquido amniótico.
Ele flutua, mas tem medo. Exaspera-se.
Ouve a voz trêmula de sua genitora.
O coração retumba logo acima de sua cabeça.
Ele não respira. Ele não pensa.
Mas pode abrir os olhos e vê a imensidão tenebrosa
do Universo que ainda não lhe pertence.
Uma pontada forte o oprime.]

Não tem onde ir
Fica ouvindo sons
Da sua memória
Que ecoam distantes

Pequenos meninos
Riem abafados
Gelado silêncio
A tampa se fecha

Ele sente falta
Não sabe fazer
Aborboletar
Seu nobre crisântemo

Raçonhento desvindouro
ressecado em seus cantos
Que arrarrange
abnega seus passos
            Erbalass-Seu passo
Suas mãos abertas
O que teme é a Solidão
Assim tão simples e pútrida
Que se pen
saria ao di
zer de seu pei
to sem expl
icação se
m dó nem pi
edade.
(somos todos calados em algum momento)

Porém, apesar de tudo,
ainda é preciso continuar.
O abissalismo é efemeramente superado.
Permanecem, mesmo que sob pressão,
ainda as costelas em forma de caixa.

Talvez não tenha carena. Talvez não tenha asas.
Mas o relevante é que permanece.
Ab(sinto). Absorto. Ab(surdo).
Vivo.

Caio Bio Mello
22/12/2014

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