domingo, 29 de maio de 2016

Ciranda do século XXI

Sequer te conheço.
Nos vimos.
Trocamos olhares.
Estamos juntos.
Apaixonados.
Estamos juntos.
Trocamos olhares.
Nos vimos.
Sequer te conheço.

Caio Bio Mello
29/05/2016

Mata

Há algo na selva
                        que corre
desliza no mato
olhos à espreita.

Que queres de mim?
                                   Serei a presa.
            O p(r)eso nas costas.

És animal caçador
                        inconfundível tato.

Tu tens de mim o cheiro do olfato.

Sou o silêncio, a falta de desejo
            desilusão.

                                               No inverno, os corpos tremem mais.
Há silêncios difusos e ideias mal colocadas
                       
                                   És meu pior castigo.
Meu fardo, meu amigo.
                                                           Tudo que sempre busquei, sem nunca desejar.

Essa ideia limitada, mal posta (colocada como a mesa da família que passa fome)
            Tens fome porque és selvagem. Vives de mim, de meu corpo.

Alimentação
de
meus nervos
seus dentes pálidos
cobertos pelo escarlate
das minhas tripas
evisceradas.

Hoje é dia de banquete.
            Mas todos têm sua vez.
                        Talvez reencarnes (um dia) como a presa
            que dilacerarei numa abocanhada

sedenta.

Caio Bio Mello
29/05/2016

Season finale

There is a flame inside of me,
a blazing feeling of resistance.
It whispers tales and mythologies to me,
showing the colors that I cannot see.

But today, my darling,
I feel sick. My mouth unravels into dust
(there is no secret in the decay).

All those images that I so fiercely create,
these stories that I cherish,
nothing has any meaning today.

But, please, I beg you:
take care of this child.
Every darkness has its own light.

You will meet the deepest Star
at the furtherst corner of the Universe.
The all-dragging combination of lights
(heartwarming Supernova).

The seed will blossom in only twelve days
and we’ll all be amazed as darkness
fades away from my smile.

And, just like that,
as fast as a flicker of the eye,
you’ll have me back.

Just be patient.

Caio Bio Mello
29/05/2016

terça-feira, 24 de maio de 2016

sexta-feira, 20 de maio de 2016

(Sem título)

Eu vejo 
As borboletas
No topo
Da montanha 
Me fascinam 
Da montanha 
No topo 
As borboletas
Eu vejo 

Tão leves. 

Bio
20/05/2016

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Dissonante

Afina esse piano 
Por favor 
Afina esse piano 
Afina esse piano 
Pelo amor de Deus 
Parecem cadáveres ambulantes 
Afina esse piano 
Isso não soa bem

Bio 
17/05/2016

terça-feira, 17 de maio de 2016

Tanatopoiesis

Decreto-te
Poema defunto 
Apétalo pedúnculo
Já não sorves da terra
Água para tua seiva
Contenta-te com aquele presságio 
Que te basta, que te busca,
Mas que jamais te concretizará.

Bio
16/05/2016

domingo, 15 de maio de 2016

A Força de Atração da Terra

Estamos.

Paralelos caminhos dos cometas
Rasgam o eterno brilho com rugido
Branco, fúcsia, vermelho, violeta
Dominante furor do colorido

Estamos em outro planeta.

Não me importa o crime que tu cometas
De qualquer modo teria caído
É como errático voo borboleta
Que voa, voa sem quase sentido

Queria saber o que tens
sentido

            Se é pele, alma, estrelocadência,
De onde vem tal luminescência?

Aprendi que temos
Nossa própria
força

ERDANZIEHUNGSKRAFT

As ondas em choque
Posso ouvir o som de meu peito vibrando
Tudo gira em tal sincronismo.

É onde orbitam os elétrons.
Imperceptíveis ao olho nu.
            Eles se desorientaram – eu perco minha matéria.

Organizam-se unipropositalmente
                        Todos os compostos de meus átomos

Agora orbitam, batalham para formar
a simples união
                        do entrelaçamento dos dedos
            de duas mãos que se unem.

Caio Bio Mello
15/05/2016

sábado, 7 de maio de 2016

Rearquipélago

Depois de tantos anos,
ardeu em mim sem propósito nem origem
as saudades pelo mar.
Eu, severo entranhado na velhice,
voltei a sentir.

Logo pensei em nadar de braçada,
escalar as águas com os meus dedos.
Mas, depois, lembrei de minha jangada
que deixei na pilha dos meus segredos.

Singrei o mar sem razão para nada
sem contar a ninguém do meu degredo,
mas ciente do motivo da jornada
que já me motivava desde cedo:

eu queria ver o Farol do Arquipélago de Noventa
uma última vez.

Aquele lugar voltou aos meus sonhos num repente, numa escaldante noite de verão. Furtou-me as vistas e eu não podia sonhar com outra coisa.

Era meu único motivo a voltar para o oceano.

No caminho, numa madrugada de lua cheia,
ao brilhar na imensidão,
eu juro, desdigo a razão,
com certeza vi um dragão.

Escamas douradas davam na vista,
o corpo esguio, vermelho e delgado
brotava d’água. A figura mista
vinha veloz num deslizante nado.

Dragão quebrava das ondas a crista
e vinha de encontro ao meu embarcado.
Eu, sem nenhuma de saída pista,
supus que morreria deslembrado.

Mas a figura, então, virou criança.
Pensei que seria um tipo quimera,
que se enterrou lá fundo na lembrança
e revirou minha vida, outra era. Lembrei-me das tardes de sol, em que me deitava no jardim e admirava as nuvens passando, ao imaginar o alcance do azul do mundo.

Eu mergulhei em mim e, talvez, desci às espumas.
Refui peixe por instantes
Talvez momentos, profuntlântico respirante
                                               Uma ideia, outro instante
            Minha eujangada, os dois, nas escamas douradas

Meu desejo, Quimerorreparada

A flor que desabrocha
no leito do mar
(a fissura dos mundos)
ao perder-se no rioceano

Expurgo

Lábios secos. Sol forte.
Grãos de areia se aninhavam em meus dedos.
Abri meus olhos.

Ao topo do morro, poucos metros adiante,
eu vi, pela última vez,
o Farol de Noventa.

Caio Bio Mello
07/05/2016