A
vida vai nos deixar.
Não
importa o tamanho das dores sofridas,
nem
das alegrias aproveitadas.
Num
dia qualquer, simples manhã de outono,
ou
tranquila noite de verão,
nossos
olhos vão se fechar
e
o nosso coração vai parar de bater.
Seja
por desejo próprio,
doença
grave
ou
infortúnios da vida: deixaremos de existir.
E
todo aquele peso que construímos,
todas
as nossas necessidades, todas as angústias,
os
sofrimento inimagináveis
não
farão mais o menor sentido.
Nós
não estaremos ali
para
pagar o aluguel no mês seguinte,
nem
para dar comida ao cachorro,
muito
menos para reclamar do trânsito no bairro.
Não
entraremos no bar para pedir uma cerveja bem gelada.
A
fila do supermercado vai ficar uma pessoa mais curta.
Nossa
caixa de e-mails vai ganhar um recheio volumoso e inapagável
sobre
promoções que nunca conseguiremos aproveitar.
Seremos
cremados, carpidos, rememorados,
banhados
em nostalgia e memórias.
E,
no mundo, já não mais andaremos.
Até
a vida mais miserável, mais inútil,
vai
acabar um dia.
Aquele
que se odeia, que tem raiva do mundo inteiro,
que
colocaria fogo em tudo se pudesse,
também
vai morrer.
E
a sua dor vai simplesmente deixar de existir.
Nunca
mais vai ser sentida, nem debatida,
nem
analisada por psicólogos.
Ela
perderá seu peso, sua importância, seu significado.
Infelizmente,
o iate também não poderá mais ser utilizado.
Preso
no cais, eterno cão sem dono,
sentirá
falta do tempo de opulência e navegação.
Paraíso
ou não-paraíso, metafísica,
transcendência,
karma, walhalla,
orixás, reencarnação...
Algumas
diferenciações são relevantes só para os vivos.
Os
mortos nunca debatem a morte.
Eles
não se importam.
Isso
nós podemos saber, desde já, com toda certeza.
Quem
já morreu não está mais preocupado em deixar o mundo.
Nós
que temos a paura do fim.
Fazemos
contas, cálculos, regimes, deixamos de fumar,
corremos
no parque, cortamos a sobremesa...
Os
mortos não.
Se
tivessem pulmões e lábios,
tenho
certeza de que os defuntos estariam rindo de nós
com
muita vontade e espanto,
perguntando-se:
“Como eles se importam tanto com
tão pouco?”
Caio
Bio Mello
02/08/2014
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