sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Tutti in famiglia

"Eu to falando
Com minha gaveta, 
Mãe,
Não se intrometa."

"Ok... Primeiro você fala
Que é o Indiana Jones
Depois fala com sua gaveta..."

Caio Bio Mello
30/08/2013

Poeçonhento



O poeta demente.
O poeta errado.
O poeta putamerdaquerrogrotescto.

Falta de nexo, falta de sentido,
perda de coesão. De coração!

O silêncio bizarro
de uma mente retardada
com sabores amargos.

Uma falta de noção gigantesca
com o mundo inteiro.

Versos malditos.
Malconstruídos.
Desdentados, caídos, combalidos.

A destruição do belo, do justo e
da maravilha central do mundo.

A cegueira noturna.
A cegueira diurna.
A cegueira diuturna.

Uma bosta.
Simplesmente um enorme monte de esterco
fétido e humilhante.

O silêncio. Um só. Inteiro.
De roer os ossos, apagar os olhos
e afrouxar a carne.

É loucura, só pode ser.
A vista não se fecha. Aberta.
À noite, na imensidão perdida.

A vida inteira sem um único significado.
Errante, incompleto, indizível.
Debilitado mental.

E que se fodam os provérbios, os verbos, os desvérbios,
os decassílabos, a pentatônica,
a peruca e a pia antiga.

O homem,
resignado
prostrado
fraco
.

Caio Bio Mello
30/08/2013








O Dom



Ou você o domina
Ou acaba sendo dominado.

Caio Bio Mello
30/08/2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A borboleta



O cidadão honesto aguarda em frente ao portão
para entrar no prédio.
Gatunos povoam a cidade,
é preciso ter cautela.

Há um primeiro portão. Imenso.
Braços mecânicos e rangentes guardam sua abertura.
No topo do portão, seis fios paralelos correm eletricidade.
Uma placa amarela (não discreta) diz Cuidado eletricidade.
E dela nunca se saberá se a eletricidade ou o homem
é que deve ter cuidado.

Depois do portão, há uma antessala.
Se tivesse paredes claustrofóbicas,
poderia ser chamada de câmara de gás.
Mas possui apenas grades escuras.

Dentro da antessala, há um homem alto
de terno e gravata.
Ele nada diz, com um fio enrolado dentro do ouvido.

Depois da antessala, há um segundo portão.
É tão grande quanto o primeiro.
Também possui braços mecânicos.

O cidadão honesto veio apenas visitar um amigo,
provavelmente não vai demorar muito.
Uma caixa de ferro solta uma voz metálica,
colhendo dados e suspeitas.

Minutos se passam. O cidadão honesto aguarda acuado.
Enquanto ele espera, o homem repara em um miúdo ser vivo
que pousa delicadamente no chão ao seu lado.

É uma borboleta.

Ela mexe ligeiramente suas asas.
O cidadão honesto nunca estudou nada sobre borboletas,
mas ela com certeza é muito bonita.
Conforme sua asa se mexe, outros tons aparecem.
Azul, preto, cinza, amarelo, branco...

A borboleta não parece se importar com o metal.
Não parece muito preocupada com as grades.
Ela transpassa o primeiro portão.
Está dentro da antessala!
Não foi anunciada, não foi analisada,
não interfonaram para nenhum apartamento
questionando se ela realmente deveria entrar.

Que absurdo! Uma patente falha na segurança.
O homem de terno que permanece na antessala
sequer repara na borboleta.

O pequeno ser vivo voa descompromissadamente
de volta para o lado de fora.
Pousa novamente ao lado do cidadão honesto.
Ele ainda espera. Alguma coisa parece estar errada.

A borboleta, dessa vez, toma coragem
e tranpassa ambos os portões ao mesmo tempo!
Que audácia... Chega a pousar sobre as flores
que estão no jardim do pátio interno do prédio.

Ela não possui um voo possante.
Não é gavião, não é ave de rapina.
Seu voo é delicado, incerto.
Mas pequeno o suficiente para fugir das grades.

O cidadão honesto, do lado de fora das grades,
observa e inveja a borboleta colorida.

Caio Bio Mello
26/08/2013

sábado, 24 de agosto de 2013

Rosa de Ipanema



Pensem nas tevês
Mudas telepáticas
Pensem nas estantes
Cegas inexatas
Pensem nas estrofes
Rotas alteradas
Pensem nas palavras
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Do poeta do poeta
Do poeta de Ipanema
O poeta hereditário
O poeta tão poetinha
Sonhador e lúcido
O poeta com cirrose
O super-poeta atômico
Com cor com perfume
Com rosa, com tudo

Caio Bio Mello
24/08/2013

Soneto de Fidelidade ao Poeta



De tudo a Vinicius serei atento
Antes, sem conhecê-lo, mas sempre, e tanto
Que até mesmo depois da morte o manto
Dele se encante mais meu pensamento.

Eu quero lê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu lembrar ou esmorecimento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a sorte, de lê-lo que tive
Quem sabe a razão, que o verso declama

Eu possa dizer do poeta (que vive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Caio Bio Mello
24/08/2013