terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fede(lix-o)



Breve menção a candidato às eleições de 2014
Debaixo do silêncio
os grilhões se movem
quedam-se poderosos
grossos barulhentos
que rugem
que grunhem
rangruenlhões
que devoram insanos
a nefasta carne intangível
de nossas almas
a serem corroídas
restando ao fim da tarde
rostos disformes com olhares a esmo
remoedores de nós
silenciosos claudicantes
mesmizendo a realidade
nos números
tristes contábeis homens
de cálculo
nas horas de expurgo
rumimentes doloridas
vernáculos imberbes
as possantes repetições
Eisamkeit
dedos que perfilam tristezas
costelas à mostra
em corpos dilacerados
a guerra conti(nua) contínua
incessante desbelezada
presos rotundoedores
dentes alvos pela noite
perscrutam o peito oscilante
o nervo do estrabichomem
Recycle
os recompostos dejetos
o mundo acircular tungstênio
eis o ruir que cor(rói)
anátemas presentes
como se o amor fosse mentira
(c)alvos empapuzados
Ku Klux Klan velada
hipocondócritas malditos
ausência de (c)almas
Vorurteil
a premedição da falha
amarrados em círculos
corunjurando olhos escan(cara)dos
na noite
a cicatriz silenciosa é hipodérmica
uma hora se rasga
chegará a vazar
Trauriges Leben
erchegará a explosão
carnes ao vento
esporrados espermaiados
nas praças nas pontes
nos rabos dos antejulgadores
amarrados atados
Social bondage
how to fuck society
num girar de obviedades
deglúten-se necessidades
a era dos socielíacos
só comem com severas restrições
sem saber, ah, sem saber
que o amor é mesmo de foder.

Caio Bio Mello
30/09/2014

Ao fim do dia



Mata-me
Mata-me
Eu te imploro
que me mate

Mata-me
Tira-me deste mundo tirano
destas mentiras
deste piso frio
da repetição da vida

Transforma-me
naquilo que sempre desejei ser
o pó a luz
a imensidão do universo

Mata-me
pois faz muito barulho lá fora

Caio Bio Mello
30/09/2014

Abjeto



Nada do que escrevi até hoje
faz o menor sentido,
nem tem a menor utilidade.

As palavras se perdem – não se prestam,
não se prendem, muito menos se delineiam.

Meus versos serão abafados pelo esquecimento,
perdidos em algum canto do mudo
sem o menor peso ou qualquer significado.

E tudo pelo que lutei, tudo que busquei conceber
na vã batalha do lirismo
não passa de mediocridade insensata.

Palavras a esmo. Tempo desperdiçado.
Rimas raquíticas.

Letras e mais letras completamente estéreis.
A degeneração humana.
Força desperdiçada,
ideias cuja prudência as proibiria de existir.
(mas sou imprudente)

Tudo o que fiz jamais se prestará a algo.
Um grande conjunto de merda.
Notória estupidez de alguém
que se sentiu sufocado em pleno ar,
largado em abissal ausência de originalidade.

Que morram os versos. Todos eles.
Vou afogá-los na privada
de algum banheiro público.

Queimá-los junto com todas as roupas para
finalmente
andar nu
pelas ruas da cidade.

Caio Bio Mello
30/09/2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pamsa

Perdidos os homens 
No templo das ideias
Pequenos desejos 
Amalgamados 
Em eternos peitos 
Oscilantes 

Próximas luzes 
Como o brilho eterno 
E sem fim 
De todas as mentiras
Sem ponta nem portão 

No final do deslumbramento 
Desmembramento helicoidal
Em que pedaços caem 
Como ventiladores caem 
Como helicópteros caem
Como caem as balas
De borracha e de ferro
Fazendo da carne vidraça 
Finalmente partível 

Particulares ignotos
Na metrópole 
Sempre atrasados
Subindo em vagões 
Imensos intestinos de ferro
A madrugada hemilúcida 
E lúdicos momentos 
Que bailam 
Que bailam 
Ao sabor do vento frio 

A barriga vazia 
Refome
Refome (reforma agrura)
Disforme 
Pequenas mentes subnutridas 
Hipoamadas
Nensendo a solidão sem fim 

Sem começo 
Sem prolapso 
Sem relapsolidão 
Hercúleos medos 
Pauras enclausuradas 
Faróis e sirenes e bálsamos 

Ah-agh-incorreria desconecte 
Desconverte
Ângulo inflexão

Sem o passe não se passa
A obediência senil 
Servilidão opaca
De queixos trementes 
E queixas silenciosas 

Já não se ama, não se ama
No mundo cru 
Nada é aprazível 
Ou deglutível 
Não podem se alimentar os celíacos
Nem qualquer bípede 
Que se digne 
Pois é tudo crime 

Caem os vídeos 
Vergam as palavras 
As lavras e colheitas
Ceifadas desde o princípio 
Por instinto 
Por intestinto 
Por indestino precoce 
Ali morre mais um

Olhos aberto maquinais 
Na derradeira pose sofrida 
De fome de medo de solidão 
De desejo de desespero 
De necessidade de frio 
Vistas que desveem
Não há mais o que ser 
De indivíduo defuntou-se
No piscar de olhos 
Dedos fechados 
Cadáver estatelado 

Só mais um 
Sóis nenhuns 
Só mais um 
Na luz na luz na luz 
São todos feitos na luz 
São todos feudos na luz 

Mas não passa de mais um morto. 

Caio Bio Mello
23/09/2014

Vigésima primeira canção de dormir

Meus olhos no escuro 
Não vão deixar me esquecer 
Desse mundo duro.

Caio Bio Mello
23/09/2014

domingo, 21 de setembro de 2014

Vigésima canção de dormir

O sonho começa 
Ainda estou acordado?
Viver é uma peça.

Caio Bio Mello
21/09/2014

Giovane

La gioventù
è solamente 
una idea.

Caio Bio Mello 
21/09/2014

A poesia morre



A poesia está morta.
Não ganha as ruas,
não está aos domingos tomando sol no parque,
nem mesmo na roda de conversas no bar.

Às vezes perdida, considerada inexistente,
ignorada por muitos. Abafada por enciclopédias.

A poesia nunca deixou o papel,
nunca saiu da tinta e das letras.
Não possui brilho próprio, não reverbera como a música,
nem tridimensiona como as esculturas.

Ela jamais foi alguma coisa.
Está apenas presa em livros empoeirados
e devorados progressivamente pelas traças.

O que seria, então, se não o é?
Como considerar a poética existente,
sendo que ela não vive, não pulsa?

A colheita dos versos é feita pelos olhos.
Depois de digeridas, as palavras
se imiscuem ao indivíduo.

No cotidiano, de supetão, o poeta
vê-se surpreendido.
Perante seus olhos, passa o mundo forrado
pelos versos anteriormente mortos.

Ali, finalmente tomam vida!
O mundo real é abarrotado de antigas rimas,
de frases construídas pelo labor delicado do escrever.
A existência se aperfeiçoa pela poética.

O corpo, então, é alterado. A fisiologia humana se transmuta.
A poesia une-se simbioticamente ao corpo
e ambos coexistem.
Agora, jamais serão separados.

Finalmente, a poesia encontrou sua vida.
Por entre as fibras, as carnes do poeta,
em seu coração manso e imenso,
é que ferve o verdadeiro lirismo.

A poesia está viva.

Caio Bio Mello
21/09/2014