quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Entretestes



Meu corpo me arde
enquanto me proíbo.
Infelizmente, sou.

A efemeridade de meu peito,
dentro do qual a tenra flor se deixa
embrutalecer, como se não houvesse
mais uma imensidão que pudesse
ser absor(vida) pelos pulmões.

Há a necessidade, mas também há a areia.
O tempo, sumidouro de amizades e alegrias,
é apenas mais um opressor de meus olhos.

Não tenho saudades, nem nostalgias.
Tenho a dureza de um corpo dolorido
e uma mente que se dobra
tal qual o pequeno barco de papel
que navega o máximo que pode,
sustentado em seu corpo suicida
que se deixa navegar enquanto ainda é tempo,
enquanto ainda a água não o perfurou a fundo o suficiente,
na iminência de derrubá-lo.

Nem o Rei da Espanha, com sua Invencível Armada,
sustentaria os meandros que a água me dispôs.
Fato? Talvez. Uma mera dobra de papel.
Ao abrir o livro, vê-se uma orelha malquista.

Não se dobram as folhas, dobram-se os homens.
Os versos todos socados dentro de um armário
que possui o solitário odor de mofo
arraigado em sua própria essência.

Desconsidero-me. Duvido de tudo.
Falho, proíbo. Permaneço em meus ossos,
mas não mais em meu suspiros.

Ao futuro, quem sabe? Quando a vista abrir-se
num mais uma vez quase não dito e coberto de angústias,
uma pétala descendo voluptuosa ao sabor do vento imprevisível.

Caio Bio Mello
28/11/2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Anatomia

Quantas pessoas
morreram dentro de mim
e eu sequer percebi? 

Caio Bio Mello
26/11/2013

Garganta

Lá depois do fim de tudo 
entre os para-quedas e as vidraças,
debaixo da terra ainda úmida,
estamos nós mesmos. 

De olhos abertos e assustados. 

Caio Bio Mello
26/11/2012

sábado, 23 de novembro de 2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Why?



Because we are
bigger than our fears
and
better than our mistakes.

Caio Bio Mello
20/11/2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Amar também os espinhos




À memória de Napoleão e Renan

Entre as pétalas das rosas,
encontro-me novamente perdido.
Lá está a morte: secando meus olhos e se afundando em mim.

Entre séculos e anos perdemos a vida.
Como ter certeza ao invés de ter medo?
Sinto frio, muito frio.

Há pouco tempo. De fato, muito pouco.
Não temos mais minutos, momentos e sorrisos.

De novo: balas e doenças e sonhos e solidões.
Pedaços de minha alma se desfazem aos poucos.

E o bafo quente da realidade tapou hoje meus poros.
Não pude chorar. Não pude acometer-me, sofrer.
O tempo não nos permite.

Os sentimentos permanecem encaixotados em pequenos conteúdos,
cada qual em seu mundo. Para mim, a Morte.
Circundando-me a vida, alheia ao meu sentimento.
De volta à enfadonha labuta. É necessário.
Sentimentos não são divisíveis: são devoráveis.

Sofrido, me ergui em segundos. Milésimos.
Eis que não percebem meu subterfúgio de insanidade.
Jamais saberão ler a verdade de meus olhos,
afogada por lentes míopes numa miríade de mentiras.

Sofro a morte de gerações passadas e futuras,
a manutenção de buracos em minha existência
que jamais poderão ser novamente preenchidos.

Mas, pelo menos por este momento
(nem que ele dure os poucos minutos de um poema
sufocado pelo cotidiano agressivo)
vou me deixar sofrer. Suspender o universo.
Vou me despir de minha armadura de aço, mostrar meu corpo
fraco e dolorido. Sim. Permitirei que a poesia me domine,
que ela seja o maior entorpecente já encontrado.

Nesse exato momento, eu vou me dar ao luxo
de poder velar pelos meus mortos.

Caio Bio Mello
18/11/2013

sábado, 16 de novembro de 2013

Destino



Mais fundo.
Mais fundo.
Completamente imerso na escuridão.

Lá onde as almas se calam
e os homens têm medo.

Cavando as feridas com as unhas,
arrancando gotas já ressacadas de sangue humano.

No entredentes. Falta de ar.
Desespero no fundo dos olhos.

Mais fundo!
Arrancando para fora os piores sentimentos.
Atrás da porta da infância um olhar atônito.
Não se sabe, mas a memória permanece.

Por detrás da nostalgia. Muito fundo.
É possível sentir o sangue pulsando na garganta,
quase jorrando para fora.

Os sentimentos mais vergonhosos. O limite dos pudores.
Lá: exatamente ali é preciso chegar.
Onde nada mais existe e ninguém mais pode ser ouvido.

Ali, a vida não faz mais sentido.
Com metros e metros de terra acima da cabeça.
Quem sabe? É preciso visitar todos os lugares.

As costelas tremem involuntariamente de frio.
Os lábios ficam dormentes.
Lágrimas fogem dos olhos e fomentam as pálpebras.

Uma mão que atravessa a vista e joga-se para dentro do crânio.
Na massa cinzenta, pensamentos tão sombrios quanto o próprio silêncio.
Mais fundo!

Quase profano. Improvável.
A ausência de tudo e a inabalável loucura do homem.
Num pequeno canto de um quarto muito sujo
de uma criança que morreu de inanição
em meio a uma guerra civil.

Caçava alimentos com seus dedos pueris.
O medo. O medo cru.
Ele não pode ser esquecido jamais.

Não pode.
O medo que se esquece é o medo que se repete.

Então, é preciso renomeá-lo. Revê-lo.
Revitalizar a longevidade efêmera da carne.
Carpir o dia. Todos eles, com as mãos calejadas.

Mais fundo! Sim! Ao limite. E depois mais.
Sempre mais. Nunca parar.
Até a própria alma dividir-se em um milhão de partes,
pequenos nacos de pão que serão servidos às pombas
numa praça, domingo à tarde.

Um bilhão de cacos de vidro espalhados por uma cama.
Em cima, dois corpos fazem sexo.
Gozo-dor, prazer do sangue e do sêmen, no mesmo destino
que cada pessoa deveria conhecer na vida.
Cada caco galgando a profundeza da pele. A dor. O prazer.
E o ódio.

É preciso chegar tão fundo a ponto de não haver mais significado
plausível para nada.
Não será mais necessário explicar o que nos cerca
quando chegarmos aos grotões de nós mesmos.

Onde a ciência não alcança. Onde a lógica não perfura.
E nem mesmo pensamento é possível ter
quando se fala do inatingível.

É preciso chegar até lá. Sentir as dores.
Ter os medos. Vivenciar.
Mais fundo!

Até as cicatrizes deforarem a pele com a qual nascemos
e nossos olhos se negarem a buscar uma última beleza
qualquer que seja.

Lá,
somente lá,
seremos profundamente livres.

Caio Bio Mello
16/11/2013

State of mind



Am I going




mad?






Caio Bio Mello
16/11/2013