Dei
início ao cômputo
da alcateia.
Somei
passos, patas e rosnados.
Antes
que concluísse, desgarraram-me.
Não fui são para saborear a carne
que caçaram.
Solitário,
então, rumei às praias.
Categorizei os grãos por densidade,
cor e polimento.
Perfilei-os, inclusive.
Súbito
subiu a maré, desfez-me o cálculo.
Por
empreender, cantei os pássaros.
De início, apenei-me e
pensei que voava.
Mas não. De chumbo, desabei.
Ao
fundo do oceano, calculei cardumes.
Segregava-os, seguia o fluxo.
Eram cem, mil, milhões.
Todavia, enrijeci, desguelrado. A um
novo continente arrastou-me a corrente.
Em
terra, somei flores para um velório.
Apertei meus beiços ao lagrimar.
(só choram os que têm direito)
Senti
que a saudade vencia.
Calcei sapatos, costurei botões, almocei às
pressas.
Esgueirei na mescla multidão.
Expurgaram-me do
coletivo abarrotado.
Trôpego
e esfarrapado, mendiguei.
Espalmei minha miséria, mas não
aplacaram minha fome.
Ao
revés: em minhas mãos, devolveram-me as minhas lascas
e passei a madrugada
fria, sob o fito das estrelas urbanas,
no
vão intuito de coser a pele, o sangue e os órgãos.
Desamanheci morto.
Caio
Bio Mello
07/07/2018