domingo, 7 de dezembro de 2014

A tristeza que me pertence



Estar ali, na beira do deserto,
a ponta aguda do ferrão da abelha
à qual já me acostumei.
(saboreio-me com seu veneno)

O fogo que flameja
e o corpo que já não mais se sustenta
sofre por queimaduras mil.
A pele se solta e a carne, pútrida,
lança-se pelos auditórios do universo.

Os dedos que perdi,
as borboletas que permanecem em meu peito
reclusas em seu claustro de costelas
como se o futuro fosse um sopro.

Não se lança, não se vende, nem se refaz.
Tento me recompreender,
como na eterna busca por um início.
Porém, já estou cinza e doente.

Crescem musgos em meus olhos,
as vistas limitam-se e o garoto de noventa
arde em chamas.

Pequenas formigas carregam minhas sensações
por dentro de minhas veias ressecadas.
Perdeu-se a pueridade.

E o corpo, sepulcro da alma,
envolve um sofrimento sombrio como as nuvens carregadas.
Sua descarga será elétrica: fatídica.
Simples libertação do eu-lírico ao infinito da metafísica.

Caio Bio Mello
07/12/2014

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