quarta-feira, 15 de julho de 2020

Terra


Aprofundo
meus pés na relva.

Caço árvore
de seiva única
            enraizada em mim.

Engalfinho-me nos galhos
                        oscilo-cipó e atinjo a polpa.

Colho o fruto
saboreio o conteúdo
                        entrelaço meus dentes e seu fago.

Esse rito pedúnculo
            ensementeia minhas mãos.

São, planto o grão
que
cresce,
floresce, robustece.

Grão raiz
raiz caule
cubro com o rubor do orvalho
caule tronco.

A reza breve
por agradecer o sacrifício.
            Deito o tronco ao chão.

A lasca afasta
a arisca
            casca.
Cascando, eu canoo.

Minha microembarcação apronteia-se
rápida
e já desliza sull’acqua.

Cá, canoo.
Basta um remo para irmos a esmo ao ermo.

Chego sem demora.
            Aceno ao oceano em festa. Estou.

Meu corpo se enguelra.
Esgueiro rápido nas correntes.
Pelicanos me pelicam
estou desfeito
em mil milhões de farelos.

Sou a areia na praia, a construir os castelos
nos sorrisos dos pequenos.
O piso de enraiar as palmeiras.
A carícia à beira-mar.

Sou o céu e o sal.

Caio Bio Mello
15/07/2020

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