sábado, 6 de agosto de 2011

(sem título)

Eu não cantarei os versos bonitos
Eu não buscarei o que tem de belo
Porque a beleza virou nossos mitos
Porque a falha quebrou no ver um elo

Não

Eu não vou deixar luz entrar no quarto
Eu não vou mais buscar palavras novas
Porque a noite feiou num triste parto
Porque meus versos há em rasas covas

Não

Eu não vou desdizer o que foi dito
Eu não vou falar outro desafio
Porque meu coração é desaflito
Porque a vida se fez de erros em mil

Não

Eu não tocarei estrelas com dedos
Eu não sei os versos antropofágicos

Porque hoje não sou feito de estrelas

Porque minha tinta acabou com mágicos

Não

As infelicidades abotoaram-me as letras em versos ruins . Estou na roupa apertada, segurando minha própria respiração num ócio assassino que me corrói a cada instante. A cada momento mais, meu corpo vive menos. Sinto-me deteriorar por fora, sinto-me desfazer por dentro. A cada instante, fico mais cinza. Fico menos homem e mais papel. Fico mais máquina do que coração. Fico mais conta do que conto. Não.

Caio Mello

06/08/2011

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