sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Metropolitano


Ele deveria estar morto,
mas cá está, ainda vivo.
Seus olhos parecem sofrer por dentro.
Mas riem por fora.

Sua boca é recheada por poucos dentes.
Seus lábios mexem-se constantemente, frenéticos.
Queixo fino.

A pele vinca
da pelo sol.
Os bra
ços finos parecem não
conse
guir sustentar o peso do mundo todo.

Mas sustentam.

Carregam peso, carregam gente, carre
gam sacolas supermercado.
De super te
mos todos.

A camisa, azul e preta, parece um grande manto
largo e recostado num
esgui proje
to do que já foi um dia uma pessoa.

Barba cerrada e branca.
Cabelo pouco, bem curto também
branco como a neve.

Sua finu
ra balança
com as curvas do metrô.

Antes fosse ôni
bus, mas a linha nova ainda continua cheia.

Cheia de gente, muita gente! Um mar de pessoas que parecem preocupadas com o relógio bates seis, sete, oito horas... Os ponteiros continuam correndo! Milhões de pernas... E ninguém se conhece.

Ele não... Ele parece conhecer todo mundo.
Pelo menos de soslaio.

Não se sen
ta. Talvez também
não sin
ta. 

Mas está bem desse jeito.
Vai durar até quando quiser.
Ou até ter um derrame e não conseguir ser atendido no serviço público.
(vai morrer de desgosto, quem sabe)

Mas, por en
quanto, todos vi
vem.

Para o trem.
Ele desce da estação, molejando o corpo.

Caio Mello
30/09/2011

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