sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Herocárdio

O coração que não bate. 
Que só arde, queima.
O coração em chamas
como o mundo em carrossel. 

O coração quieto, roto, velho. 
Órgão nu. Pobre. 
Deixando escorrer seu sangue 
quente como chuva. 

O coração velha caverna de outros dias. 
Em meio às teias, quem será?
Um par de olhos de vidro.
Será que ainda guardam algo?

Com certeza não. 
O coração é jaula enferrujada,
dotado de pequenos compartimentos aveludados
que separam eras, épocas e dramas. 

O coração estúpido. 
Velha lataria de chumbo grosso. 
Rijo. Fibroso. 
A parte da solidão que penetra na carne. 

Antiga válvula de puxar e empurrar sangue
agora deteriorada.
Não tem olhos. Não tem boca. 

Mas, se tivesse, contaria de suas angústias. Dividiria seus medos. 
Se tivesse a capacidade da fala,
tristeria o mundo de insensatezes. 
E isso não se faz. 

Então, que se deixe morrer no peito. 
Quieto, abafado entre as costelas. 
Moído até sua última sístole. 
O sangue morto no homem que anda. 

Caio Bio Mello
11/10/2013

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