domingo, 20 de abril de 2014

A estúpida inteligência



Sinto agora, dentro de mim,
uma vontade inegável de ser infinito.
Eu tenho absoluta certeza de que
apenas uma vida não será o suficiente
para que eu possa completar tudo o que desejo fazer.

Sinto que minha existência pode se esticar, dobrar
e dar voltas ao redor de mim mesmo.
Sinto isso como uma leve brisa que bate em meu rosto
e que anima meu sorriso.

E, ao mesmo tempo, sinto-me um completo imbecil.
Tenho certeza de que tudo o que eu fiz até hoje
não tem o menor significado
e que eu necessariamente não vou deixar nada para trás.

Sou apenas um retardado que acha que sabe alguma coisa,
que decorou frases de efeito e sai pela rua repetindo elas
como se isso fosse algo mais do que um macaco treinado
para fazer repetições que agradam ao público.

E tudo isso existe em mim – em minha carne, em meu peito.
Isso borbulha por detrás de meus olhos
e revira-se por dentro do meu pensar.

Talvez a minha imensidão caiba num frasco de vidro,
assim como todas as outras loucuras da vida.
Esse sentimento agigantado pode ser nada mais do que um breve olhar
ou um sonho estúpido de um homem ainda jovem
(que ainda não conheçou o mundo de verdade).

Ou – quem sabe? – talvez a minha própria limitação
seja aquilo que me faz imenso, que me torna eterno.
Talvez os meus sentimentos e minhas fraquezas
sejam o verdadeiro ponto que me torna único.

De uma forma ou de outra, ao arremessar a moeda ao ar,
a cara e a coroa alternam-se nos rincões do Universo.
Realmente, neste momento, a conclusão não faz a menor diferença.

Porque descobri que
devorar a minha fera significa me tornar, eu mesmo, ela.

Caio Bio Mello
20/04/2014

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