A
chuva negra me escorre pelos cabelos
e
eu sendo triste e pouco e parco
já
no primeiro ato
sou
o silêncio da garganta rouca.
Os
dedos engarreados que riscam a alma
no
plano do mundo
onde
pequenos ovos densos
povoam
a pele com o frio da madrugada.
Na
imensidão do nada, eu fui vazio
Trapo jogado no chão da cozinha
Ter
o meu nada era só o que eu tinha
Enquanto arfava o meu peito no frio
Pois
razão não há na vida sozinha
Peixes sufocados fogem do rio
E
se debatem pelo olhar sombrio
Nessa vida que quis chamar de minha
Epiléticos
músculos defuntos
A podridão densa desse meu verme
Me
habita por debaixo da epiderme
Inúmeros globos, muitos conjuntos
O
meu cadáver de temperatura
Única carne que ainda me atura
Enveredam
desjuras pelas minhas veias.
O
verbo que não segredei no momento oportuno.
A
profana responsabilidade de um único fato,
imensidão
contígua de minha existência.
O
crânio oculto que me resta – que se ressalta.
Sereno
e oblíquo, projeta-se neste meu antiquerer
perpetuado
pela condição enferma do lirismo.
Olhos
abertos na noite. Primeiro a vista. Depois o açoite.
Minhas
profundezas, meus oceanos, quem os conhecem de fato?
Sou
mero boato de cores quentes. Primário réu em forma de feto.
O
umbilicalismo profundo. Sustento-me ainda.
Nada
de cigarros, não os fumo.
Mas
há nicotina o suficiente por detrás das orelhas.
A
pele dura. O homem flácido.
O
coraconstelação infinito que se desdobra e se perde.
A
supernova possante do vindouro buraco-negro.
Não
nego.
Me
sobram as cinzas
Assim
tão depressa
Como
se meus dias
Fossem
a mentira
Muito
bem contada
Pelas
mãos da bahiana na maestria da concepção do acarajé.
Restam-me
os mareumotos, e eu em uma nau ao deus-dará,
desviando
dos penhascos e dos excessos sentimentais.
Porque
ainda sou.
Caio
Bio Mello
25/11/2014