sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Interestelar



A supernova numa explosão infinita
os confins de tudo, princípio de espaço.
Os pequenos olhos-guaraná
que voam despretensiosos
por tudo aquilo que existe.

Vamos deixar para trás
                                   As nossas roupas tão tristes
E voltar os nossos signos
            Para o princípio de espaço.

A órbita translúcida de cada cidadão.
De pastas, ternos e luzes
é feito o mundo.
(na cidade, já não se veem tantas estrelas)

Permanecemos na ausência de gravidade
assim soltando-nos a esmo
como se pudéssemos descrever
um arco elíptico
por pura inércia.

Sou arremessado, atravesso
e dou meu primeiro passo
na Lua
A small step for a man
a giant leap for mankind.

Assim, deitados,
o céu do meu quarto é estrelado.
Você sempre soube disso
e me desculpou pelas minhas incompletudes.

E cada ponto eu conto

Sideral

Meus braços                                         desavisado
                               brilho eterno
                                                                                                             Um homem de arrependimentos
Vejo aqui uma constelação                                                  ela se forma
                assim de contornos tão simples
                                                                              Será nova? Ignota?
A Ilha Desconhecida à procura de si mesma
                                                               meus dizeres não se propagam
                                               pelo vácuo
                                                                                              Não se sente frio nem calor
a minha máscara de astronauta embalado a vácuo me permite sussurrar
(somos todos mascarados)

Será que há vida fora da Terra?
Se o homem já pisou na Lua, como eu ainda não tenho seu telefone?

Eu madrugado, de costa estrelizo
Explodo o que sou de proborboleta
Liriscéu é porta do Paraíso
Assim, no rabo de um poecometa

[A bailarina gira
abre suas mãos
como se fosse um arranha-céu
perfurando a realidade oxigênio,
ela agora respira sonhos]

Eu quero ver e ouvir the dark side of the moon

Para essa ver sua nova faceta
O teu lado doce, macio e liso
Poder sonhar com um novo planeta
Onde as árvores crescem do lirismo

Brotamos do chão, tu e eu,
no nosso selfbigbang
recomposição da primordial sopa.

Nossos corpos desenhados por lava
Mas nossos destinos giram em órbita
Nem tivemos tempo de resfriar

E me sobrou a tarefatlas sórdida
Falta a Terra, me resta sempre o ar
Apolonze não da terra escapava

Como fincar bandeira se não há sustentação?
Mas, em verdade, primeiro havia os vikings
e a solução já havia sido posta. Eu que a ignorei.

Retornamos pelas auréolas cósmicas
para não ficarmos somente em órbita.
Procuro desviar minha rota
pela atração gravitacional que sinto por você.

Porque eu sou feito de estrelas cadentes,
na cadência bonita do samba,
permaneço na esperança
de haver decifrado o meu pedido.

[Benza, pai,
o meu pedido não é concreto.
Quero que me digas
exatamente o que pedir na forma desse pedido.
Não preciso da resposta,
apenas da pergunta.]

SINTO-ME ATRAÍDO
POR ESSA VONTADE
DE ME PUXAR
INTERESTELAR
Eu já não consigo fugir

São os olhos de ressaca,
olhos de cigana oblíqua e dissimulada
que me buscam, me atraem, me puxam,
me degeneram
                                   e tudo o mais que resta da Galáxia
            será devorado vorazmente
numa desconstância gravitacional sem limites
puxando          comendo         devorando,                 esse nosso
buraco negro.

Caio Bio Mello
23/01/2015

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