Oh, poema
Raquítico,
Perdoa os versos
De desencontros
Que a ti semeio!
Por antes entendas,
Meu nobre,
Que derivas da poeira,
Do sol e da vida.
Pelo conteúdo parco
Não culpes teu poeta
(Defino-me assim
Pelo vício - e não pela qualidade,
Não sou digno de tanto).
Meu poema esquálido,
Falta-me também a carne...
Sono troppo stanco!
Bate-me o peito
Por entre as costelas
E soa a vibração nas vértebras
Estou parapoégico
(Sinistro estado de rouquidão).
Mas tu existes. És um (f)ato.
Entopes minhas veias
E brotas em meus poros
Por ânsia, fúria e necessidade.
Não te impedir posso,
É necessário que ganhes o papel.
Imprescindível que venhas
Ao mundo!
A(o)berro(ção) que surge
Eclode e erupte
Sem nunca pedir licença.
Poema magro
Se fosses um menino
Serias Capitão da Areia
Nas praias de Salvador
No tempo de Jorge.
Mas não és.
Nasceste umbilical a mim
E hoje te concedo
Carta de alforria
A legorragia lirismáurea.
Estás livre para ser
Qual verbo, cais ou pranto,
Verso nu de poeta preterido
Vai: anda.
Meu poema, és mais lirismo
Do que eu sou homem.
E, assim, me salvarás.
Caio Bio Mello
13/10/2015