O
teu corpo velho,
marcado
de idade,
fica
agora solto
(postura
pacífica)
num
sono profundo.
Assim
é melhor.
Sempre
me questiono
se
tu me criaste
ou
fui eu sozinho.
Agora
estás quieto
sem
última fúria,
lição
de moral
ou
acusação
para
magoar
ou
me machucar.
Tua
boca sem verbos
um
puro poema,
o
néctar divino
que
eu queria ouvir
mais
cedo na vida.
Não
és mais severo.
Teus
olhos não abrem...
Tão
inquisidor
foste
por tão longo
que
nem reconheço
a
ti como pai.
Botaste no mundo
filho
aparental,
ausente
de afeto
duro
como ti.
Eu
já nasci duro?
Ou
eu era tenro
e
tu me duraste?
Eu
não sei dizer.
Hoje
não importa,
não
podes me ouvir.
Mas,
se tu pudesses,
não
darias ouvidos
a
nada que digo
como
nunca deu.
A
minha família
nunca
foi normal,
jamais
tive chance
de
vida feliz
lá
dentro de casa.
Quando
tu bebias,
saía
correndo
para
qualquer lado
sem
ter que apanhar
por
qualquer motivo.
Olha para ti...
Agora
estás morto.
Tu
ficaste fraco,
velho
moribundo.
Cadê
a mão forte?
Não
vais me bater?
Defunto
patético.
O
pior de tudo
não
são os teus erros,
nem
mesmo tua morte.
O
que mais me irrita
é
sentir saudades
de
te ter em vida.
A
raiva de mim
mesmo
é gigantesca.
A
garganta trava,
minha
voz engasga
eu
posso sofrer,
só
não admitir
em
momento algum
que,
depois te tudo,
eu
quero que voltes.
Eu
não vou ceder.
Por
ti? Nem um pouco.
Mas
quero que saibas,
antes
de enterrado,
que
se houvesse chance
te
teria aqui
junto
do meu lado,
Pai.
Caio
Bio Mello
04/10/2015
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