Isso
que no meu jardim
não
me pertence
me apetece
me enlouquece.
É
fruto, revolução,
o
claustro despudorado
essa nova sensação
(não
vejo nada de errado)
o
sabor da negação
que cresce aqui do meu
lado.
Venho
carpir com paciência
o
dia – no labor comum da pessoa-padrão...
Eis
que me surge, de supetão,
o
detalhe proibido, a armadilha.
E
como brilha.
Essa
beleza recôndita que se diz séria
é
tão rara quanto a arara-azul.
Andam
as duas vidas em pares,
mas
deixam em seus rastros,
assim
pelos ares,
um sentimento de permanência.
De
soslaio a potência
vejo
brotar em ramos no meu jardim.
Com
correspondência
não
me importo, estou despido do
sentir
despedido das funções humanas.
Tenho
carnes, tenho ganas.
Tenho
calos em meus dedos de arar o solo
do
dia a dia. Um café e olhos furtivos
balançam
na fumaça suave.
(sinto o cheiro das
manhãs)
Elas
correm sempre com ar de deboche
(uma flor que cedo desabroche
verá
o término de uma era antes de mim)
como
se tivessem longos compromissos
com
os galhos, os caules, as chuvas.
Mas
eu sou o sereno da manhã.
Discreto.
Paciente.
Furtivamente
desnecessário.
Não
ouso cortar-lhes as folhas, muito menos as rosas.
Não posso, sou humilde jardineiro.
As
plantas crescerão fora de meu comando:
a
mim não cabe decidir o que floresce
e
nem vai se decidir ao meu mando
o que perece.
Noto,
com assombro, como se avolumam.
Que erva daninha!
Por
que insistem em invadir a vida minha?
Só quero poder cuidar de
meu jardim
porque,
no final da tarde,
quando
volto trôpego de cansaço,
é
só ele quem cuida de mim.
Caio
Bio Mello
16/03/2016
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