segunda-feira, 15 de julho de 2013

Medidas








 Nem tudo que é grande é pequeno
e
Nem tudo que é pequeno é grande.



Caio Bio Mello
15/07/2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Loteria


Que se faça o silêncio,
então,
ao que é posto e não se vê.

Caio Bio Mello
11/07/2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Lixo mundo



Estou farto desse mundo lixo.
Farto das pessoas, dos discursos.
Talvez a sensibilidade tenha me corroído
ou talvez eu seja só mais um grande imbecil ainda vivo.

O fato é que estou farto.
Dessa lisura aparente
e da latente podridão do mundo.

Cansei dos ternos, das gravatas
e dos saltos femininos de grife.

O asfalto me sufoca, a fumaça me deixa surdo
e a distorcida educação me queima no estômago.

Estou cansado da falta de tudo!
E da presença de um novelo inutilizável
e indizível de inverdades burocráticas.

Eu tenho nojo desse universo paralelo
escondido por debaixo de nossos bueiros.
Os ratos, as raízes, as entranhas e a poeira.

Estou descontente. Descrente.
Meus olhos não enxergam,
apenas refletem a realidade
que se amontoa à minha frente.

O sentimento das coisas é não poder senti-las
mais, apenas consumi-las.
Devorá-las, se preciso, degluti-las.

O depósito de segredos bem guardados
por debaixo da cuia.
Os dizeres envidraçados e os ca(s)cos
dos cidadãos.

Basta! Por favor!
Em nome de Deus.
Ou em nome da República, oh, ateus.

Em nome do que for,
para onde for
e com qualquer origem.

Desde que isso acabe uma hora.
Tudo tem um fim.

E não essa progressiva bola de neve olímpica
que vai acabar na Sé.

Imagina isso em casa... Na mesa.
Na sala. No quarto.
Agora imagina isso na copa! Que absurdo!

Que os raios partam,
e que dividam e dilacerem todos
e no mar das incertezas
navegaremos no mundo incompleto.

Que por falta de serenidade e transparência
já o temos – pútrido e estéril.

Chega! Eu suplico!
Não o façam por mim, nem por si mesmos.
Façam em prol de algo maior,
algo que os seduza.

A caridade, a crença, a política,
o lucro, a gula, a salvação...
Tanto faz! Eu não me importo!

Me importa que o façam.
Meus motivos não apetecem a vocês?
Eu tenho minhas idelogias de humano-só.
Um ser vivente que crê em algo.

E que diferença faz?
Ao fim de alguns meses,
parecem manadas inteiras de quadrúpedes
correndo pelo Planalto Central
sem norte nem sul que os guiem.

Então, calem a boca de uma vez por todas!
Fiquem quietos por uma semana.
Abençoado é o zunido do bater rápido
de asas de uma mosca varejeira perto do discurso de vocês.

Bom, esse discurso não me importa mais!
Não importa, não faz sentido
e não vai mudar nada! Nada!

Mas que absurdo deixarem
esses animais ganharem um púlpito.
A praça da descrença é tudo o que nos resta,
numa eterna piada sem a menor graça.

Era tudo mentira. Como sempre.
Era tudo um gigantesco, colossal
monte de estrume empilhado
por cima das janelas bem polidas.

Eleita a melhor pocilga do universo.
O mundo real que o diga,
reflexo tortuoso de nossos sonhos.

Bem... Sonhos o são. E ponto.
Quem os diriam verdades?
Já se calaram aos longos do século.

A despolitização de todos,
do mundo, dos armários,
das serras elétricas, dos ônibus,
dos recém-nascidos e dos cadáveres amontoados no IML.

A tudo: o meu mais profundo nojo. Asco.
Verdadeira ojeriza.
Que corram atrás de seus próprios rabos
e permaneçam em suas pequenas poças de lama
fazendo reuniões e graça e aumentando impostos.

Mundo lixo, já disse.

Caio Bio Mello
10/07/2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

Os filhos da liberdade



            O que mais impressiona o Brasil e os políticos da nação é a força com a qual a juventude de hoje sai às ruas. Nasceram vários questionamentos sobre como surgiu essa postura combativa e irreverente do jovem brasileiro. A nova geração – que tem hoje por volta de 18 e 25 anos de idade – já foi rotulada de apática e despolitizada por não possuir um “inimigo comum” como a geração anterior. Os jovens eram tidos como inconsequentes e alienados. Porém, com uma inundação de protestos de cunho político no país, tal rótulo mostrou-se falho.
            Para tentarmos entender melhor nossa realidade, é preciso inserir a juventude do “vem pra rua” no seu contexto histórico. A geração da qual faço parte nasceu no final da década de 1980 e no começo da década de 1990. Nesse tempo, caía por terra a Ditadura Militar brasileira que teve início em 1964, sendo definitivamente sepultada em 1988 com a nova Constituição. Retomamos a Democracia representativa e a República Federativa do Brasil. 
            A análise dessas datas nos permite dizer que a juventude de hoje foi criada, desde seu nascimento, em uma Democracia. Essa constatação, sem uma reflexão mais pausada, parece um tanto óbvia – principalmente para os mais velhos. Porém, para o próprio jovem, é muito relevante. Nós fomos criados, desde o primeiro dia de vida, num país livre. Nós nascemos já com diversos direitos e garantias considerados irrevogáveis e imutáveis pela própria Constituição Federal. É como a chuva que cai nos dias úmidos. Desde pequenas, as crianças já sabem que a chuva cai. Podem até inicialmente não compreender por que isso acontece, mas sempre tem a certeza de que a chuva cairá ao longo dos anos. Assim foi também a nossa democracia. A juventude de hoje foi criada, cunhada e alimentada por uma Democracia desde o berço. Para nós, ter esses direitos é o mesmo que ter oxigênio para respirar. É como ter a certeza de que o sol nascerá no dia seguinte.
            E essa noção de liberdade não tinha sido posta à prova até as revoltas deste ano. Em nenhum outro momento, a atual juventude tinha sido testada a esse ponto para mostrar a sua postura. A atuação política e policial que foi vista pelo país inteiro mostrou-se falha e despreparada para um país que se diz garantidor dos direitos e das liberdades do cidadão. E essa revolta do jovem contra a opressão possui origem na sua própria criação.
            É muito importante lembrar, também, que há muito tempo isso não acontecia no país. A Democracia brasileira possui um histórico intermitente. Tivemos apenas três grandes momentos históricos de garantia de liberdades na nação: A República Velha, forjada logo após o término do Império, a República Nova (ou “Populista”) e a República na qual vivemos hoje.
            A República Velha teve início em 1889. Começava um movimento de crescimento político no país e uma diminuição na concentração do poder nacional. Apesar de um avanço, tal realidade mostrou-se uma Democracia limitada frente a seu contexto histórico global. Depois da Crise de 1929 e da onda de declínio econômico no país, teve fim a República e iniciou-se a Era Vargas. Ressalte-se que a República Velha foi, até os dias de hoje, a mais duradoura era republicana em nosso país. Prolongou-se por aproximadamente quatro décadas, de 1889 a 1930.
            A República Nova (ou “Populista”) já nos é muito mais próxima e muito mais compreensível. Com o fim da Era Vargas, democratizou-se o país. Foram anos de muitas mudanças, da criação de Brasília e de debates intensos. JK, seus “cinquenta anos em cinco”, Jânio Quadros, as “forças ocultas” que o fizeram renunciar, Jango... Toda essa realidade foi vivida pelos brasileiros que hoje estão na casa dos 70 anos de idade. Ou seja, muito provavelmente, são os avós da juventude de 2013. A República Nova, com todos os seus altos e baixos, morreu ao atingir a maioridade, ainda muito jovem: durou por volta de 18 anos (arredondando, de 1946 a 1964). Isso nos mostra um dado importante: mesmo que os nossos avós tenham nascido em um Estado Democrático, este durou menos que duas décadas.  
            O que dizer, então, da geração que teve berço na década de 1960? Início dos anos pesados, crescimento progressivo do controle estatal. Em 1964, o golpe militar, ano do Ato Institucional nº 5. Criados num ambiente de repressão, de existência do DOI-CODI e do DOPS. A arte se dobrava, as opiniões se dobravam, o povo era obrigado a se calar em nome da segurança. Eram os “anos de chumbo”.
            Então, com essa breve análise da história democrática do Brasil, podemos perceber – com um certo espanto – que a geração do “vem pra rua” de 2013 vive o que não se viveu no país por um longo tempo: uma Democracia duradoura. Desde o fim do Império brasileiro e do início da República Velha não se vivia tão intensamente um país de liberdades e direitos como o que vivemos hoje, feitas as ressalvas históricas da Democracia de 1900 para a Democracia de 2000.
            E a geração da qual faço parte espantou-se com a reação estatal. Os governantes de hoje – crescidos durante a Ditadura Militar – também se espantaram com a invasão do espaço público. Os jovens tomaram até a cobertura do Congresso Nacional. Vivemos um choque de culturas, um diálogo escancarado entre duas gerações que viveram realidades tão distintas.
            De certo modo, sinto-me privilegiado de ter nascido nesta época. Até os meus 23 anos de idade, não tive que temer limitações políticas, nem repressão ideológica. Dias Gomes, o já falecido autor da novela Saramandaia que está sendo atualmente reapresentada e reinterpretada, concedeu entrevistas, após a ditadura, explicando como era dificultoso ser um artista durante o Governo Militar. A censura devorava sua criatividade. Ideias de liberdade podiam apenas ser transmitidas através de metáforas, de homens alados considerados deformados pela população. Censurava-se até o pensamento. Hoje, as ideias estão escancaradas.
            E tudo isso é garantido pelo famoso artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Esta Constituição que é chamada de “colcha de retalhos” por alguns é também a “Constituição Cidadã”. É ela que nos defende, que nos dá guarida. Ela também teve berço no final da década de 1980 e início da década de 1990. No auge de seus vinte e cinco anos de idade, ela também faz parte dessa geração do “vem pra rua”. Depois de anos de conturbada história, nossa Constituição sobrevive, mesmo aos ataques fortes de políticas anti-democráticas. E a juventude também faz sua parte, saindo às ruas para garantir a Democracia com a qual nasceu. Por isso tudo, e pela histórica democrática intermitente da nossa nação, precisamos ter cuidado. Se um dia morrer a Constituição de 1988, com todas as suas falhas, exageros e acertos, morrerá também uma parte dessa geração, que teve berço esplêndido numa realidade singular do nosso país.

Caio Bio Mello
02 de Julho de 2013