sábado, 26 de fevereiro de 2011

Cores

A imensidão da noite loucurava a vontade dos homens. Estrelas, branquinhas e redondas, sorriam seus dentes e seus olhos num bendizer amável. A terra parecia solta e desconexa. O chão tremia junto com meu peito. Meus ouvidos rangiam, chilreavam ao sabor do infinito. O gelo escorria pelo chão, desfazendo-se em água. Ardia também, ainda no horizonte distante, um sol que, brincalhão, teimava em não querer acordar. A simplicidade dos fatos em olhos de estátuas. O ferrasfalto contorcia-se, transformava-se num desejo. E era vontade. Simples ímpeto delirante. Não havia caminho. Eu, momentaneamente cego. Passos a esmo. Um um dois um dois um. Mais um passo, mais eu faço, mais eu peço, mais confesso. E as engrenagens metamofizaram-se em pássaros. A libertação dos escravos. Grilhões antigos de ferrugens reviradas. E eu via. Podia ver! Cores mil, brotando das frestas. Laranja, verde, azul, verrosa, macadâmia, anacoluto. Atônito, um um dois um dois um. Os olhos eram apenas dizeres distantes de piadas antigas. Eram homens sérios, muito sérios. E alguns corações partidos. Daqueles que partem para terras distantes, com medo de voltar e ver a flor ainda viva. De ver o bico ainda curvo. De ver em si o que não se via na pele. Mas os homens eram estátuas. As cores devoravam com facilidade a pedra. E não sobrava mais nada, mais ninguém. Era tudo uma grande sinergia colorida.

Caio Mello
27/02/2011

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