Era um doce raiar de dia
manhã de sol que tudo vigora.
Ela abriu seus olhos grandes,
desceu de sua cama.
Já conseguia alcançar o copo
e enchê-lo de água sem ter que acordar seus pais.
Andava devagar para não fazer barulho.
Sentou-se tranquila na escada
da parte da frente da casa.
Pensava em ir andar pela estrada de terra
que tinha um rio bem bonito no fim.
Passava o dedo de leve
em cima da madeira.
Tomava sua água sem fazer muito barulho,
sem perder sequer uma gota.
Subiu a escada, impaciente.
O pessoal todo queria dormir,
mas aquilo já não era mais hora de dormir.
Era tempo de acordar.
Fez só um pouquinho de barulho
pra ver se seu pai acordava.
Mas nada de seu pai acordar.
Muito menos sua mãe.
Foi para seu quarto,
deitou de novo.
Mas manteve os olhos
bem grandes e bem abertos.
Ficou encarando
a montanha
que ficava do outro lado da janela.
De tanto encarar, a montanha transformou-se
num balão.
O balão cinza veio voando até sua janela.
Dentro do balão,
veio um moço barbudo e alto.
Ele começou a falar:
Menina dorme na cama
Passa na sua janela
Elefante cor de rosa
Brilho forte noite e
dia
Macaco motociclista
Alpinista de novela
Passa-me ela passa já
E de cá que vou trazer
O comer de
pão-de-queijo
O seu beijo de acordar
Quem não dorme não
acorda
Roda sol de dia lua
Amanhã volto de novo
Povo que logo me
chama.
Então o homem foi logo embora.
Depois dele, a garota nova
continuou olhando pela janela.
Agora um cangaceiro
com suas armas e
suas cicatrizes
aparece na sua janela
Hoje venho aqui de dia
Ontem vim aqui de
noite
Passo noite que foi
fria
Passo dia nos açoite
Corro solto que nem
bode
Pisco vista de saltar
Já num sei cumué que
pode
Viver assim longe do
mar
Essa vista foi
herdeira
Velho branco de saltar
Tendo a força
derradeira
Esse sopro vem amar
Então o cangaceiro
soltou uma risada bem gostosa
e seguiu caminho.
Veio então Dom Pedro I pelo caminho.
Eu trago notícias de
Portugal
Trago da longe terra
de São-Nunca
Trouxe verbo de mais
umas achadas
Eu trouxe a cascata do
bondizer
Pois esse é meu
presente para ti
Não me negues, não me
cantes, nem digas
Que eu fiz tudo pelo
rei, pela fama
Eu fiz foi pra ti, pra
ver teu sorriso.
E Dom Pedro I
foi embora.
Passado o povo todo
ela pegou uma caneta e
desenhou um pássaro.
Jogou o desenho pela janela
e uma fênix enorme
saltou em chamas pelo
horizonte nas montanhas.
Ah! Agora uma banda vinha chegando!
Ha! Tum! Ha! Tum
tum...
Oooooii,
ooooioioiiiiii...
Que tá na hora de vir
sambar...
Uma música linda!
Amor, eu sei que você
já acordou.
Vem pra cá tomar café
com a gente.
A pequena sorriu, deu um tchau pra banda
e desceu a escada, saltitando.
Caio Mello
09/10/2011
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