domingo, 9 de outubro de 2011

Matutino


Era um doce raiar de dia
manhã de sol que tudo vigora.
Ela abriu seus olhos grandes,
desceu de sua cama.

Já conseguia alcançar o copo
e enchê-lo de água sem ter que acordar seus pais.
Andava devagar para não fazer barulho.

Sentou-se tranquila na escada
da parte da frente da casa.
Pensava em ir andar pela estrada de terra
que tinha um rio bem bonito no fim.

Passava o dedo de leve
em cima da madeira.
Tomava sua água sem fazer muito barulho,
sem perder sequer uma gota.

Subiu a escada, impaciente.
O pessoal todo queria dormir,
mas aquilo já não era mais hora de dormir.
Era tempo de acordar.

Fez só um pouquinho de barulho
pra ver se seu pai acordava.
Mas nada de seu pai acordar.
Muito menos sua mãe.

Foi para seu quarto,
deitou de novo.
Mas manteve os olhos
bem grandes e bem abertos.

Ficou encarando
a montanha
que ficava do outro lado da janela.

De tanto encarar, a montanha transformou-se
num balão.
O balão cinza veio voando até sua janela.

Dentro do balão,
veio um moço barbudo e alto.

Ele começou a falar:

Menina dorme na cama
Passa na sua janela
Elefante cor de rosa
Brilho forte noite e dia
Macaco motociclista
Alpinista de novela
Passa-me ela passa já
E de cá que vou trazer
O comer de pão-de-queijo
O seu beijo de acordar
Quem não dorme não acorda
Roda sol de dia lua
Amanhã volto de novo
Povo que logo me chama.

Então o homem foi logo embora.
Depois dele, a garota nova
continuou olhando pela janela.
Agora um cangaceiro

com suas armas e
suas cicatrizes
aparece na sua janela

Hoje venho aqui de dia
Ontem vim aqui de noite
Passo noite que foi fria
Passo dia nos açoite

Corro solto que nem bode
Pisco vista de saltar
Já num sei cumué que pode
Viver assim longe do mar

Essa vista foi herdeira
Velho branco de saltar
Tendo a força derradeira
Esse sopro vem amar

Então o cangaceiro
soltou uma risada bem gostosa
e seguiu caminho.

Veio então Dom Pedro I pelo caminho.

Eu trago notícias de Portugal
Trago da longe terra de São-Nunca
Trouxe verbo de mais umas achadas
Eu trouxe a cascata do bondizer

Pois esse é meu presente para ti
Não me negues, não me cantes, nem digas
Que eu fiz tudo pelo rei, pela fama
Eu fiz foi pra ti, pra ver teu sorriso.

E Dom Pedro I
foi embora.

Passado o povo todo
ela pegou uma caneta e
desenhou um pássaro.

Jogou o desenho pela janela
e uma fênix enorme
saltou em chamas pelo
horizonte nas montanhas.

Ah! Agora uma banda vinha chegando!

Ha! Tum! Ha! Tum tum...
Oooooii, ooooioioiiiiii...
Que tá na hora de vir sambar...

Uma música linda!

Amor, eu sei que você já acordou.
Vem pra cá tomar café com a gente.

A pequena sorriu, deu um tchau pra banda
e desceu a escada, saltitando.

Caio Mello
09/10/2011

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