domingo, 7 de abril de 2013

Abafem-me



Os limites entre a vida e o sonho
estão cada vez mais tênues.
Não sei mais se faço viagens abstratas
ou se o concreto me é palatável.

Estou me corroendo, me desfazendo.
Perdendo em mim o que há de ser.
As subjetividades multiplicam-se, somam-se,
e eu permaneço estilhaçado.

Ich bin grau.
Ich habe keine Farbe,
die ich liebe.
Meine Gefühl ist dunkel.

Há livros velhos na estante
que se desfazem com o tempo.
A terra há de comer, o verbo há de comer,
o sentimento será devorado

e somente as traças terão em seu bojo
a tristeza versada numa tarde pequena.
Desconheço-me
 a cada dia mais.

Io ho dimenticato la gioventù,
io sono qualcos’altro.
E la notte non ha
più luce per me.

I see myself as a distant friend
who I haven’t seen for quite a while.
Is he real? Am I a mirror?
Maybe my verses are nothing but a stupid joke.

I am a lyrical clown,
drowned in makeup
and lost in a dream,
the infinite, endless and maze shaped dream.

Life’s and endless maze.

Os caminhos bifurcam-se.
Dentro de mim, as veias fagocitam a carne,
diluem meus sentidos e
carregam enlouquecimentos.

O corpo padece, a mente perece.
Saber não é mais uma constatação.
É uma viagem hipersensorial,
diversas vezes desagradável.

Ich sehe zu viel.
Sehen tut mir weh.

Eu só gostaria de carregar essa doença a menos,
gostaria de poder contorná-la, externá-la como um traço.
A mera característica, um reflexo banal
como uma pinta ou uma cicatriz.

But my body is my living proof.
And my mind is my unliving standard.

Ninguém sabe de fato o que ocorre por detrás dos olhos de vidro.
Ninguém jamais viu, ninguém jamais conheceu.
E o frio recôndito jamais será partilhado,
sofrendo o coração em seu inverno sem fim.

A pele se rasga, se desdobra.
A mente parte-se em múltiplas e se cansa.
Ich bin müde. Kopf(welt)schmerzen.

Enterrem-me. Por favor.
Preguem a caixa de madeira e sufoquem meu último suspiro.
Deixem-no abafado debaixo da terra
e tenham a decência de nunca chamar por mim.

Caio Mello
07/04/2013



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