O
poeta se dissolve.
Seu
eterno silêncio é infinita mordaça.
Suas
mãos já não possuem mais significado.
Defunto
à procura de enterro, de quietude,
de
algo que lhe impeça de continuar sendo.
O
poeta gira em círculos, perde-se.
Suas
garrafas de plástico sem nenhum conteúdo
apenas
amontoam-se no quintal.
No
fundo de sua mente, há uma confusão,
um
infinito caos indecifrável.
Os
poemas todos, todos perdem o significado.
Eles
são cadáveres dispostos no Instituto Médico Legal
à
espera de que lhes abram o peito para verificar o conteúdo estéril.
E
o legista proferirá suas conclusões:
“Esta era para ser uma rima rica,
logo acima do coração.
Mas o poeta mostrou-se pouco
criativo e rimou dois verbos
regulares no passado... Que absurdo.
Olha essa parte, então.
No pulmão, chegando na pleura,
podemos ver que faltam metáforas. Um
poema flácido, natimorto.
Sim... De fato, este poema deve ter
sofrido grandes dores em vida.”
E
as dores todas serão afixadas na parede da sala,
enfileiradas
para mostrar a estupidez da vida
e
a falta de profundidade do cotidiano.
A
taxonomia da morte.
Resta,
então, ao pobre artista a única solução aceitável.
Imerso
em seu próprio choro, em meio a soluços,
o
poeta novamente estende o braço e esteriliza a agulha.
Mais
poesia para dentro da veia... A única solução para esquecer
deste
inferno.
Caio
Bio Mello
18/03/2014