Eu
o
demônio recôndito em mim.
O
eterno pesadelo preso em uma miríade de sentimentos
sem
significado
sem
início e sem fim.
Um
ser errante, fraco – incompleto.
Controverso
fracasso
sem
bordas, sem sol raiantes
sem
sucessos.
Eu.
Infinito
sentimento do topo das montanhas
às
profundezas do inferno.
O
que não conheço, o que não vejo,
o
que não aceito, o que não quero aceitar.
A
injustiça do mundo que me perfura a pele.
Olhos
perfurantes que me irritam, que me causam ódio.
Deus,
por que és Deus? Quem foi que deu a ti este direito?
Estás
por toda parte e, ainda assim, em lugar algum.
Sei
que me desfaço. A cada dia mais, sei que sou menos.
Tenho a consciência de que sobro em farrapos.
Não
tenho ambições, não tenho desígnios.
Estou
debaixo da água. O mar é profundo e verde.
Ao
longe, minhas débeis mãos agarram-se fracamente a uma corda.
Solta, Bio, solta a corda.
E
eu solto. Meu corpo, pesado feito uma rocha,
afunda
pela imensidão das águas escuras.
Posso
sentir o frio rasgando meu corpo.
Fecho
os olhos. Meus pulmões enchem-se de água
numa
última tentativa desesperada de sorver um pouco de ar.
Mas
ar não existe. Não existe mais o mundo.
Há
janelas e cálculos.
Ocorrem
eventualmente bolhas de consciência.
Aqui e ali – ainda me encontro.
Estupefato,
vejo-me no reflexo do vidro do carro.
A
besta encontra o homem. (qual deles é a besta?)
Ali,
naquele exato momento,
tudo
desaba como mil paredes e mil cores
e
mil universos concatenados.
O
gigantesco castelo de cartas do eu-lírico.
O
eu-soterrado.
A
sete palmos de terra continuo preso.
(aqueles
versos ainda não me deixaram)
Resta-me,
ao canto do prato, a indecisão.
A
incerteza. Uma dor no estômago.
Não
há mais caminhos, nem realidades,
muito
menos realizações.
O
tempo passa. Ou melhor: salta.
Encara-me
o calculista relógico digital.
Não
me resta muito.
Não
por falta de tempo! Mas pela consciência de
saber
que o quanto me pertence
é
pífio se comparado à quantidade de batidas de coração
que
ainda tenho.
Do
tudo que tenho sei que me restará pouco.
Poucas
risadas. Poucas tardes de sol.
Poucos
abraços de amor. Poucas cartas de saudade.
Mas
as cicatrizes, guardo-as aos montes.
São
meus troféus. A cada dia pioram
a
cada dia mais dilaceram minha carne.
Aos
poucos, percorrerão todo meu corpo.
Deformar-me-ei
de tal sorte que
ninguém
mais poderá me reconhecer.
E,
eu, o ignoto monstro horrendo,
poderei
– na beleza do desconhecimento –
começar
de novo. (quem sabe?)
Caio
Bio Mello
15/07/2014