A
cada dia regrido mais
à
condição de larva
de
rebento, de pré-nascimento.
Esse
não é o meu momento,
é
o silêncio que brota da carne,
o
subterfúgio dos olhos cintilantes.
(mas
não vejo mais como via antes)
Há
essa ideia em minha cabeça,
uma
mulher, com certeza uma mulher.
Um
desregramento em mim de ser o que não sou.
Alguém
que sem pegar, levou.
A
larva. O verme. Desconheço-me.
Batem
à porta da madrugada:
It’s me again.
Antes fosse o corvo. Mas não é nada.
Sou
eu perdendo peles. Camadas.
Eu
já fui lenda, agora sou cinzas.
O
esterco
mal
lavado no chão do estábulo.
Uma vez limpei, continuou
sujo.
Eu
sou uma enorme mentira, uma farsa.
Regrido
à carapaça perdida, estática e inútil,
da
barata que rasteja pelos dejetos,
os
banquetes prediletos.
A
separação do lixo
compostagem
dos meus órgãos
devorados
por insetos
me
transformarei em alma
fiquem
longe do meu corpo
fiquem
longe do meu corpo
Metartropodofobia
fiquem
longe do meu corpo
Autópsia.
Já nasci morto e
decrepito-me
um pouco mais a cada segundo.
Só
me resta este castelo, este buraco,
essa
nesga de realidade.
Enterro
meus dedos em algum corpo
não
posso dizer se está vivo ou morto
um
cadáver sem gestos, todo torto
vai
me causando náusea, desconforto.
Existe
alguma razão, talvez porto?
Mas
não. A ideia morreu – mais um aborto.
Enterrei-a
ao lado daquilo que gostaria de ter sido.
Algumas
flores de plásticos mal posicionadas
ao
lado do jazigo. Eterno silêncio, apagaram o fogo.
É
uma escuridão que aumenta,
que
doma progressivamente meus sentimentos,
dobra
meus sorrisos e limita meu olhar.
Acromático.
Dificilmente se ilumina.
Por
trás do terno, o mesmo lunático.
O lince nasceu do pé da
árvore e foi para a selva.
Livre,
ele. Preso, eu.
Ou
talvez seja aquele par de olhos,
a
densidade do ferro. É muito pesado.
Durou
segundos, milésimos, a dama,
o
farfalhar da borboliberta. E foi só isso.
Entenderia?
(questiono-me)
Assim,
num átimo, capaz de devorar, refazer,
aproafundar.
Estou no leito oceânico. Faz silêncio.
Estou,
mas os olhos não estão. O ferro assim, próximo.
Não
me resta nada.
A
não ser morrer.
Caio
Bio Mello
24/02/2016
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