terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Arquipélago de Noventa

No ano de 1990,
um novo arquipélago foi descoberto
próximo à América Central.

A notícia deixou os estudiosos assombrados
e muitos se questionaram se a terra já existia
ou se fora criação de recentes erupções vulcânicas.

Após as primeiras expedições,
uma das ilhas foi escolhida para
dar berço a um farol: o Farol de Noventa.

A Ilha do Farol, em pouquíssimo tempo,
ficou muito conhecida. Os aventureiros
faziam excursões pela região
para desbravar as maravilhas naturais.

Os mitos diziam que o solo da Ilha do Farol
era fértil como nenhum outro,
que os animais eram únicos
e a água, cristalina.

Mas as viagens às outras ilhas
não tiveram o mesmo sucesso.
As outras terras do Arquipélago de Noventa
eram cercadas por fortes correntezas,
que atraíam e engoliam os modernos barcos,
num turbilhão de água, espuma e solidão.

Quando finalmente o mar foi superado,
a topografia das ilhas mostrou-se
ainda mais agressiva e imprevisível.
Penhascos, vulcões, pedras escondidas no mar raso.

Surgiram histórias de povos antropófagos
que viveriam na região. Os exploradores eram mortos,
seus órgãos extirpados
e devorados nos rituais indígenas de guerra.

Dizia-se, também, que os animais
das outras ilhas do Arquipélago de Noventa
eram bestas feras gigantes que podiam envenenar
e matar em segundos.

Alimentado pelo imagético popular,
o conjunto dessas ilhas
ficou conhecido como a Sombra do Farol,
por sua fama de inospitalidade
e pela capacidade de moer sonhos e alegrias.

Um dos líderes da exploração do Arquipélago de Noventa
ponderou que talvez seria mais prudente largar toda a região
à sua própria sorte. A beleza não suplantava o risco.
Melhor cortar o problema pela raiz de uma vez por todas,
deixar que a Sombra do Farol se afogasse
em seu próprio rancor.

A discussão nunca esfriou,
mas o turismo à Ilha do Farol
tornou-se muito lucrativo e as empresas
se esforçam, até hoje, para inviabilizar
o fechamento do Farol de Noventa.

De qualquer forma, essa discussão é secundária
para os especialistas.
O que os intriga é saber
por que razão nenhuma pessoa, até hoje,
com toda a tecnologia disponível,
jamais conseguiu sobreviver por muito tempo
na Sombra do Farol do Arquipélago de Noventa.

Caio Bio Mello
09/02/2016

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