Depois
de tantos anos,
ardeu
em mim sem propósito nem origem
as
saudades pelo mar.
Eu,
severo entranhado na velhice,
voltei
a sentir.
Logo
pensei em nadar de braçada,
escalar
as águas com os meus dedos.
Mas,
depois, lembrei de minha jangada
que
deixei na pilha dos meus segredos.
Singrei
o mar sem razão para nada
sem
contar a ninguém do meu degredo,
mas
ciente do motivo da jornada
que
já me motivava desde cedo:
eu
queria ver o Farol do Arquipélago de Noventa
uma
última vez.
Aquele
lugar voltou aos meus sonhos num repente, numa escaldante noite de verão.
Furtou-me as vistas e eu não podia sonhar com outra coisa.
Era
meu único motivo a voltar para o oceano.
No
caminho, numa madrugada de lua cheia,
ao
brilhar na imensidão,
eu
juro, desdigo a razão,
com
certeza vi um dragão.
Escamas
douradas davam na vista,
o
corpo esguio, vermelho e delgado
brotava
d’água. A figura mista
vinha
veloz num deslizante nado.
Dragão
quebrava das ondas a crista
e
vinha de encontro ao meu embarcado.
Eu,
sem nenhuma de saída pista,
supus
que morreria deslembrado.
Mas
a figura, então, virou criança.
Pensei
que seria um tipo quimera,
que
se enterrou lá fundo na lembrança
e
revirou minha vida, outra era. Lembrei-me das tardes de sol, em que me deitava
no jardim e admirava as nuvens passando, ao imaginar o alcance do azul do
mundo.
Eu
mergulhei em mim e, talvez, desci às espumas.
Refui
peixe por instantes
Talvez
momentos, profuntlântico respirante
Uma
ideia, outro instante
Minha eujangada, os dois, nas escamas
douradas
Meu
desejo, Quimerorreparada
A flor que desabrocha
no leito do mar
(a fissura dos mundos)
ao perder-se no rioceano
Expurgo
Lábios
secos. Sol forte.
Grãos
de areia se aninhavam em meus dedos.
Abri
meus olhos.
Ao
topo do morro, poucos metros adiante,
eu
vi, pela última vez,
o
Farol de Noventa.
Caio
Bio Mello
07/05/2016