domingo, 10 de julho de 2011

Deusa

Hoje a poesia
é um eterno silêncio
que vai me corroendo a alma,
derretendo-me vagarosamente.

Ela é uma máquina.
Constante, incisiva, absurda,
necessária, elétrica,
um rodar constante de engrenagens.

A escuridão vai banhando
as peças
para que elas possam continuar
rodando o silêncio que hoje me sufoca.

Sinto-me enjoado, vazio, gelado.
Meus membros vão regredindo
vou-me tornando cada vez mais fraco.
Posso sentir meus músculos atrofiando.

Meu coração já não bate.
Ao contrário, ele também vai se desfazendo.
E, no lugar da minha carne, encontro cabos.
Ferro, zinco, lítio, monitores, cabos de tomada.

Meu corpo todo torna-se mecânico.
Minhas idéias tornam-se binárias.
Meus braços tornam-se ferramentas.
Meus olhos tornam-se câmeras que gravam, mas não veem.

E, no que antes era o meu peito, o que há agora?
No interior do meu novo cofre de chumbo,
encontro um barulho peculiar.
Não ouço mais nada do velho tumtumtumtum.

Tudo que ouço é o rugido abafado
de um monstro que me conquistou
sem mesmo eu o saber
tiquetaquetiquetaquetiquetaque

quase sempre prestes a explodir.

Caio Mello
10/07/2011

Um comentário:

  1. precioso quando a gente consegue agarrar essas sensações e comunicá-las.
    well done!

    Beijos,
    Laura Cantal

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