sábado, 30 de julho de 2011

Ragia

Diziam-me dos homens
e a vontade louca de ser.
Aquela ânsia descabida
de devorar um mundo tão complexo.

Era um circo, um teatro,
um palco, um dia inteiro.
O sol ali a brilhar no canto,
meio ressabiado com toda a situação.

Conspiravam desassossegos
numa tarde de sábado,
enclausurados em
seus desejos mais torpes.

Dizendavam falantes
me pedindo que desfosse
antes do sersó
e nunca quentendendo.

Diziam do ser
diziam do mar
erravam-me todos
contavam os nós

sem nunca acertar
o que mais cabia
na falta-caminho
homem solitário.

Então,
sentei-me a olhar a vida passando vagarosamente perante meus olhos. Por que raios pensar? Por que não somente liberar a vida e seguir adiante, num modo de vida simples e quotidiano? Essa alma que me devorava, essa mesma alma que tinha ânsia absurda por dizer o indizível, por tentar ver nos olhos dos outros a beleza infitnita. A busca constante pela perfeição, o mais belo, o mais puro, o mais coeso. Não era eu quem queria, eu não tinha sequer opinião sobre esse desejo.

Desejo longo de dentes
carnudos-ponta-de-faca
me procurava de noite
e povoava meus sonhos

Com os sonho mais loucos
com os dizeres mais palatáveis para um ser que vive. Sim! Aquele desejo incontestável de continuar se alimentando das estrelas. O céu, o mar, o infinito misturados numa grande bolha de sabão, todos a dançar alegres. E ninguém mais podia me dizer o que diziam aquelas palavras daquele modo. Só elas diziam, somente elas eram completas o suficiente para abrir os trechos que mais me eram fechados.

Tu,
que buscas em nós o desejo,
encontra em ti antes de tudo
o que mais te devora por dentro.

Vive o que foi feito para se viver.
Possuis dentro de si a resposta
para as perguntas mais indizíveis,
vês por entre as pessoas.

As estrelas dizem que são eternos
Nós dizemos que são todos sem fim
São mecanismos que giram externos
O nó que simplifica o não dum sim

Busca ali na lágrima matinal
Certo sabor que deve ter aurora
Busca no começo do ser final
Aquilo que não tem dia nem hora

A saudade
é coisa simples que cabe num verso que só que há de ser redito conforme passam os tempos.
A saudade
precisa ser reconquistada, destruída, limada após cada encontro.
A saudade
é necessária a verso descoberto, aquele que passou um dia inteiro tomando muito sol num parque veranoso.
A saudade
é o passado presente buscando um futuro com os olhos curtos que nunca se desenlaçam.
A saudade
é um nó simples que pode ser desfeito com qualquer desaperto que pode ter a alma.
A saudade
é você distante de mim hoje

A saudade
que não conquistamos, vivemos, transferimos, emprestamos, tomamos como dor do próximo, devoramos como falta de vontade que não pode e nunca será contada nos dedos.

Ela também é poesia.
Tudo tem uma quantidade de poesia dentro de suas moléculas. É um elemento desquímico que vive na alma das pessoas, reflexo-luz do mundo paralelo de nossos olhos. E são os ouvidos que as trazem para o mundo das coisas. A mente mistura-se com a alma, os olhos sentem o brilho que tudo carrega, a boca transforma em dizível e os ouvidos captam a realidade, fazendo a luz atingir o que os olhos cegos não conseguem ver.

Todos nascem vendo, enfim.
O problema é a dureza da vida.
Ela vai engolindo os homens aos poucos
fala de mercados

fala de ações na bolsa,
de problemas com o dólar.
Então desaprendemos o que nascemos com
e aprendemos aquilos de que nascemos desnudos.

Formamos capa-dura,
o hard-cover dos best-sellers americanos
e esquecemos logo cedo
qual fora o brilho que nos foi conteudado.

Toda
hora
sinto
pouco
sinto
muito
tanta
coisa
essa gente
somos todos
mesma coisa
somos poucos
esquecidos
somos poucos tantos
somos coisas tantas
tanta coisa somos
ontem hoje seja
como pode deixa nunca
nunca sendo nunca querem

nesta tarde.

Enfim, uma tarde só na qual o verdiamarelo é mais um detalhe jogado nesse tanto. Tanto demais para caber num peito único, numa alma faminta, raquítica .

O silêncio
das palmas
ecoava plácido
pelo trampolim
plim plim
e todos os homens fumando malboro usando seus ternos bem talhados que sustentam a sustentável coisa humana.

Estava escrito num muro perto de casa “serumano é ser humano”.
E eu concordei.

Caio Mello
30/07/2011

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