sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Corpo


Deito-me de olhos abertos:
a noite dia manhã.
E, do silêncio do asfalto,
arranco versos sangrentos
que me riscam a parede
que me segredam tristezas

E que me enchem com a facilidade da vida
aquilo que me faltou aos ouvidos ouvir.
E ouço com o prazer
de um pequeno ao ver o mar e ouvir as ondas pela primeira vez.

Segredo-me, enfim, no enlaço da escuridão
com os pulmões famintos por poesia.
A putrezia, a melancolia, a nãosserzia...

E minha alma já pedia há séculos
só que meus músculos falharam
por então mais uma outra vez.

Os meus castelos aos montes que os tenho
são guardados entre cada costela.
Sou eu. Sou eu. Com certeza, não ela.
Eu crepito meus ossos como lenho.

No ardor da glória, eu sou a derrota.
Na batalha sem trégua, sou o fim.
Na vida dos seres fora de mim.
No pó velejar de mais uma frota.

Em minhas ranhuras eu vejo estrelas
que se gabam por serem infinitas.
Benditas as estrelas são, benditas!

Fico no meu quarto tentando vê-las.
Vejo. Sou. Não é. Deveria ser.
Que se tem na vida para viver.

Viver. Vir. Dar. Sociovidar.
A busca quotidiana que vejo em cima de minha pia.
E meus braços não me pedem mais nada.

Que segredem meus segredos
que se morram os meus medos
que quebrem-se os dedos
(tristes arremedos)
pela falta de escárnio e estúrdio

O rancor tedioso!
O tédio o tédio o ódio
as válvulas pneumáticas de mais um carro.

E as cores mil
que me saltam aos olhos enquanto lacrimejo.
Sinto, aos meus pés, o chão levitar.
As velas queimam o fogo que faz meu quarto brilhar.

Agora sim,
as cortinas se abrem.

Caio Mello
09/12/2011



Nenhum comentário:

Postar um comentário