E a menina fazia força para abrir os olhos.
Mas eles continuavam fechados.
Subia as escadas infinitas por detrás de suas pálpebras,
sem nunca haver um degrau último.
Desde que o sol banhara em sua cabeça
os raios trazidos com a maré
não havia sequer um rubi assim forte
para retomar um outro tom.
E esse tom novo era ruim.
Era o tom do sufoco,
as engrenagens que enferrujam
e tomam o destino com indiferença.
O asfalto rebentou.
Mil abelhas num só pote.
O bueiro, mais fundo que tudo,
é a primeira porta de Dante.
(vivemos hoje o inferno)
Toda aquela pilha que foi construída ano após ano
foi-se desfazendo, caindo como caem as folhas
como cai a neve, como caem os cocos,
como caem os heróis.
Do caminho sobraram somente espinhos
indigestos e inconsequentes
a devorar o que se devora sempre,
a cada novo fio grisalho.
Uma onda fria cruzou a cidade,
inundou a represa,
partiu em dois
corações já partidos e refez o ódio por trás do ócio.
A noite engoliu os sonhos de mais alguém
Deglutiu o que se tomava como verdade,
sussurrando ao sopro que nos detém
deixa logo esse vento
que sou dura.
E foi assim que os olhos se fecharam.
Fecharam? Fechados? Fechos?
As correntes que mais devemos temer são nossas
prórias correntes.
Limitamo-nos num suicídio coletivo.
As linhas que delimitam o real do fascínio
são mais tênuas do que a própria linha
entre a vida e a
morte.
Se estamos vivos, se sorrimos,
é tudo. Um depois arco-íris do que deve ser.
Ou deveria ter sido.
Afinal, é sempre falho.
Mas a menina entendia de si.
Conhecia o fim da escada.
Esticou bem a mão e se refestelou
com o toque doce, macio da pálpebra.
Força, garota, pois aqui fora já é dia.
Piscaram-se os olhos repetidas vezes.
A luz era muito forte.
Os pulmões se encheram.
Os pares do inifinito.
Caio Mello
01/05/2012
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