Ele mirava o céu
dentro de si
Mirabolantes
borboletas
Passavam-lhe pela
vista
Podia ver o sol por
dentro
As entranhas expostas
de um astro
Podia sentir o poder
em suas mãos
Era aquilo que
gostaria de ter sido
Eis que cada força
Migrava do pó
Seus dentes rangiam
Seus olhos cegavam
Sua mente vazia
Seus
pés doloridos
Os
frascos vazios
A
noite tão fria
Grande liberdade
Pão
de cada dia
Estética
morta
Seus dedos partidos
Seus
lábios rachados
Amar era pouco na longa vida
Ainda mais homem desconhecido
Nunca tomou coragem nem partido
Conviveu só com caminhos de ida
Um homem quase forte: parecido
Viveu desde o Cravo até Margarida
Era uma vida esmagada, sofrida
Que jamais apresentou qualquer ciso
Mas isso pouco
importava
Certos desmembramentos
eram necessários
Ele queria chegar ao
fim, ao começo, ao princípio
Avançar para o
princípio
Devolver-se ao rebuliço
do mundo torpe
Exposto, quem sabe, na
torpe urbe
Um hiato de si mesmo.
Aquele traço de solidão que
buscamos em nós mesmos. Uma vontade, quem sabe... Um desdesejo. O desdesejo dos
homens são. As loucuras do palhaço, as verdades do conselheiro, a certeza do
homem de terno com pasta na mão. Nós somos, queremos ser. Um pouco de nós no
molde da pasta de dente, no corte de cabelo, na sola gasta do sapato, no pedaço
de bolo cortado, na catraca mal girada do metrô.
Se conseguiria
Jamais
responder
Jamais
perguntar
Jamais questionar
Tudo o que precisava
Tudo o que pedia seu
corpo e deleitava sua alma
Era o estado insólito
de seu grunhido
O fim das pessoas
O fim do mundo
O fim de tudo
O fim de todo e qualquer pensamento
Começo da era do seu expurgo
Homem perdido se sentindo vulgo
As mãos tão férreas de outro sargento
A criança frasco de vidro bulbo
As vistas marejadas pelo unguento
Como regressasse num só momento
Estourando filhos tal qual sabugo
Podia dizer
No
palco da vida
Decorara
o texto
Vivera concreto
Abstrato asfalto
Regredira à posição
Fetal
Como se o crime que
uma vez cometera
Fora
Colocar olhos ao
mundo
Bem
Quando ninguém
desejava
Ver.
Seus pés, trôpegos, olhavam a
escuridão. Uma luz. E o peito arfava. Aquele sentimento... Era o fim do verão,
quando retornávamos da praia e nos sentávamos dentro do carro abafado. Lá fora,
o sol forte brincava com nosso rosto. O mar continuava com suas vagas eternas.
O céu maravilhava azul. Porém, nós, tão propensos à simples condição humana,
permanecíamos enclausurados na máquina de rodas. E partíamos... Seguíamos
sabendo que aquele momento jamais teria retorno. E o todo voltava, esmorecendo
com a certeza do fim. Era exatamente assim que ele se sentia quando fechou os
olhos.
Caio Mello
05/09/2012
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