domingo, 13 de janeiro de 2013

O elenco



Ali no mastro, um cheiro de estrume.


Bacia solitária no gotejar das manhãs.


A puta velha se ri do mundo.


Camisas rasgadas e olhos com sangue.


A máscara perdida de um rosto gordinho.


As panelas sujas empilham-se.


O corpo decapitado samba.


Debaixo das terras se escondem as vozes.


Um caroço preso na garganta dentro da árvore.


O palhaço aposentado com a maquiagem borrada.


Diarreia e vômito.


Atrás da banca o mendigo defeca.


O gosto velho de café requentado.


A gordura do corpo entra pelos ouvidos.


Não fazer pelo gosto de reclamar.


O tédio e a curva.


A velha-nova esquina do que se foda.


Os meninos mentem meninas.


Uma triste constatação de inverdades.


O cachorro sem pernas não pode latir.


O corpo flácido retumba na madrugada.


Carne moída no fundo do copo.


Lampreia, lombriga e lorota.


Cuspe sangue depois do cigarro agramático mal lavado.


A certeza da feiúra e a consequência da solidão.


O belo falso suicidade.


Um bilhão de pessoas. Ninguém se conhece de verdade.


Debaixo da mesa de jantar, namoradinhos desvirginam-se.


A hipocrisia das boas vestimentas.


Anéis em dedos e línguas.


A opa cidade gris.


Bipolaridade coletiva.


Bitolas incorretas incapazes de circular carvões.


A inutilidade grisalha.


Olhos que não cheiram as cores da morte.


O álcool nos tanques do fígado anidro.


Raquitismo poliglota e imberbe.


A solidão faz novos amigos.


Aquele último baile para se sentir repassado.


Homens que não nasceram para hominar, antes ruminar.


De segunda a segunda um peido por dia.


E, depois das pílulas, mais porra nenhuma.

Caio Mello
13/01/2013

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