O hábito funesto do asfalto.
O que se gastou não foi o tempo.
Fomos nós. Ali.
Três peões perdidos naquele imenso tabuleiro,
no meio das engrenagens desenganadas.
Um engasgo? O cavalo corta em sete.
Mas nós permanecemos.
Sem eixo, nem beira, nem caminho que fosse.
A torpe urbe, recôndita de si mesma,
atrás de uma janela embaçada.
O tempo elástico e repentino,
num átimo, se perdeu no meio do verbo.
O cliente um vinte dois a nos espreitar.
As veias e artérias se entupiram. Nada transitava.
Nada! O vento morreu num canto silencioso.
E aquilo tudo começou a transbordar. O sangue rasgando o
piso,
invadindo o corpo e segredando as almas.
A falta de sentido. O rei, quem seria?
Três peões ainda ali. Mesmas janelas escutavam
o ranger de engrenagens mal construídas
e roídas com o tempo.
Quem se rói é a alma e não o corpo.
O débito do dia, a chuva nossa de cada tráfego,
o conta-gotas do terno puído.
O caos começou a se render
quando os peões, aos urros e aos murros,
por razões desregradas, burlaram as leis da diagonal
e seguiram dominando em frente. Sem nexo.
O rei-tempo, conta-almas, ignoto imovediço,
cedeu passo ao que já não se vence,
pois o que não se conta é o que conto hoje.
Caio Mello
19/02/2013
Para você, Felix