O vazio e um silêncio
desconexo
digladiam-se no espaço sideral.
As paredes vão ficando cada vez mais curtas,
cada vez mais estreitas.
O corredor é escuro.
No fundo, olhos estrábicos encaram o vácuo.
A vista de quem? (a vida de quem?)
A dor ausculta os corações partidos.
Cinza. Preto. Cinza. Cinza. Preto. Cinza.
Bolas de gude rolam sem controle.
Dentes rangem por detrás do armário.
Um choro seco é ouvido na esquina.
Mariposas perdem suas asas ao voar em direção ao poste.
Gatos pretos devoram os insetos.
As entranhas bipartidas inundam a noite.
O menino não gosta da cena.
O conjunto é frio.
Um corpo deformado se cria.
A carne putrefeita tem cheiro de vômito.
Ódio. Ódio de sim mesmo. Ódio do mundo.
Um desejo profano de se decepar.
Arrancar de si o pior de tudo.
Aquela porra de circo armado.
Infeliz palhaço de quem todos riem.
A graça é momentânea, mas a mácula é eterna.
O corpo não dura, não cheira nem cresce.
Morrer é fácil: basta largar o último sopro
nos ombros de quem ainda vive.
Ei-lo, frente ao mundo. Inútil.
Um falso. Fantoche esquálido em braços alheios,
fazendo a eterna dança do tu-que-ri.
Ri tu, ri tu, que eu não vou mais rir.
Todos se riem dele, todos o sufocam.
O cimento é muito quieto.
A água não dá trégua: inunda os pulmões.
Não há mais respostas.
Não há sequer lágrima para verter da face.
É ridículo.
As manias criam teias infinitas.
Os sonhos só são doces nos olhos.
Sonhar um sonho é fácil.
Difícil mesmo é contruí-lo,
erguê-lo do chão,
fazê-lo ganhar força e seguir firme.
A solidão, por vezes, invade a alma.
E as palavras entortam a vida, vergam a razão.
Os maníacos descendo o rio na barca-manicômio.
PALAVRASPALAVRASPALAVRASPALAVRAS
Ei-lo, novamente. Maldito personagem.
O terno envolvendo o defunto em seu leito de morte.
Aquele rosto pálido que paga contas todos os dias,
que monta relatórios e guarda as risadas.
O medo de tudo enquanto o corpo se esfacela.
Medo da vida, da morte, do emprego, do futuro, do passado...
Ao invés de diminuir, ele aumenta.
O corpo torna-se uma aberração.
Aberração, a vida.
Incongruente, nada mais se sustenta.
Como saber o verbo sem poder crê-lo?
Como, ao ver o primeiro raiar da aurora, seguir adiante?
Adiantaria?
Sem mais respostas, as dúvidas criam raízes.
E o corpo se torna pó.
Caio Mello
04/02/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário