domingo, 21 de setembro de 2014

A poesia morre



A poesia está morta.
Não ganha as ruas,
não está aos domingos tomando sol no parque,
nem mesmo na roda de conversas no bar.

Às vezes perdida, considerada inexistente,
ignorada por muitos. Abafada por enciclopédias.

A poesia nunca deixou o papel,
nunca saiu da tinta e das letras.
Não possui brilho próprio, não reverbera como a música,
nem tridimensiona como as esculturas.

Ela jamais foi alguma coisa.
Está apenas presa em livros empoeirados
e devorados progressivamente pelas traças.

O que seria, então, se não o é?
Como considerar a poética existente,
sendo que ela não vive, não pulsa?

A colheita dos versos é feita pelos olhos.
Depois de digeridas, as palavras
se imiscuem ao indivíduo.

No cotidiano, de supetão, o poeta
vê-se surpreendido.
Perante seus olhos, passa o mundo forrado
pelos versos anteriormente mortos.

Ali, finalmente tomam vida!
O mundo real é abarrotado de antigas rimas,
de frases construídas pelo labor delicado do escrever.
A existência se aperfeiçoa pela poética.

O corpo, então, é alterado. A fisiologia humana se transmuta.
A poesia une-se simbioticamente ao corpo
e ambos coexistem.
Agora, jamais serão separados.

Finalmente, a poesia encontrou sua vida.
Por entre as fibras, as carnes do poeta,
em seu coração manso e imenso,
é que ferve o verdadeiro lirismo.

A poesia está viva.

Caio Bio Mello
21/09/2014





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