O tempo,
necrófago famélico,
impiedoso genitor.
Assassino de todos
os Capuletos e todos os Montecchios,
do primeiro ao último papa,
de Kennedy a Gandhi.
Avarento usurário - limitador de possibilidades,
cobra sem dar, pede sem volta.
Inconsequente e inarredável.
O tempo egoísta: seca as horas aprazíveis
e dilui os segundos torturantes.
Boja os crescentes e verga os minguantes.
Saco de eternos arrependimentos,
contraditório concessor de vida.
Cleptândrico, sedento possuidor.
Rei das memórias,
na cadência dos batimentos que não mais retornam.
Caudaloso rio de margens invisíveis.
A correnteza que nunca retorna e
que jamais deságua.
O maestro de todos as eras,
presente pela mensurabilidade,
mas inefável em sua vivência.
É o fantasma da existência,
o fardo de todo ser vivo
e deus menos nobre.
O tempo, porém, indispensável
para que tenhamos a paúra do desperdício,
para que busquemos inevitavelmente o melhor de nós
porque cientes de que jamais voltaremos a ser
aquilo que fomos hoje.
O tempo, então, como severo doutrinador
da felicidade.
Caio Bio Mello
22/08/2015