O corpo
se refestela no asfalto.
A esquina é ruidosa,
mas ele, calado.
Intramuros,
risadas e luz.
Ali, gris e rouquidão.
[o liviopaquiderme
cambaleante desliza
pelas vias,
mas somos
brancotônicos
(por opção?)]
Um desamontoado
de nada - famélico
e desfamiliarizado.
Qual gesto se faça,
a se recuperar a lucidez
porque já não se pode definir
se a origem da insensatez
vem dos maltrapilhos
ou dos eutrapilhos
(há futuro na ganância?)
Eis que a possibilidade
emerge de um desate de vista,
sem que se aturdam
os transeuntes.
Debaixo das camadas
de sujeira, suor e mijo,
metamorfoseia-se
o solitário.
Arreganha os dentes,
perscrutantes e libertos
que se afilam e alongam.
Emerge o morcego,
indivíduo recém-criado
da sopa primordial
de mágoas de alguém.
Voa, ainda aturdido
pela nova fisionomia.
De suas antigas pernas
(aquelas que o carregaram
por toda sua vida
com respeitável primazia)
brotam baratas.
Muitas. Baratas.
Debandam como
a correnteza forte do Amazonas.
Todas correm velozes ao
bueiro mais próximo.
Estão vivas, nos
intestinos metropolitanos,
pois a rua nunca regurgita
suas sobras.
O morcego?
Está livre. Para sempre.
26/08/2015
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