sábado, 22 de agosto de 2015

O tempo

O tempo,
necrófago famélico,
impiedoso genitor. 

Assassino de todos 
os Capuletos e todos os Montecchios,
do primeiro ao último papa,
de Kennedy a Gandhi. 

Avarento usurário - limitador de possibilidades,
cobra sem dar, pede sem volta. 
Inconsequente e inarredável. 

O tempo egoísta: seca as horas aprazíveis 
e dilui os segundos torturantes. 
Boja os crescentes e verga os minguantes. 

Saco de eternos arrependimentos,
contraditório concessor de vida. 
Cleptândrico, sedento possuidor. 

Rei das memórias,
na cadência dos batimentos que não mais retornam.

Caudaloso rio de margens invisíveis.
A correnteza que nunca retorna e 
que jamais deságua. 

O maestro de todos as eras,
presente pela mensurabilidade,
mas inefável em sua vivência. 

É o fantasma da existência,
o fardo de todo ser vivo 
e deus menos nobre. 

O tempo, porém, indispensável 
para que tenhamos a paúra do desperdício,
para que busquemos inevitavelmente o melhor de nós
porque cientes de que jamais voltaremos a ser 
aquilo que fomos hoje. 

O tempo, então, como severo doutrinador
da felicidade. 

Caio Bio Mello
22/08/2015

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