terça-feira, 8 de setembro de 2015

Flocolhos


Pares de olhos 
emergindo a esmo 
na escuridão.

Pontos brancos 
que intermitentemente 
perdem-se em meio
aos flocos de neve 
que despencam no silêncio.

É possível espreitar 
as vistas pela janela.
Para notá-las, só mesmo 
de soslaio
(não querem ser vistas).

Volumes amontoados
de grossos casacos 
de um tremor incessante,
não se sabe se é paúra
ou frio.

São pesados olhos 
que se agarram
que devoram 
que buscam sem piedade.

Eriçam os pelos,
gelam a espinha,
reviram o estômago 
e secam a boca.

Assustam porque têm fome,
sede, medo, tristeza. 
Mas o que mais impressiona 
os transeuntes 
não é a pobreza, nem a imundície.

A densa verdade que os cobre
é perceber que lhes roubaram 
os sonhos e, agora,
não fazem mais nada 
que não vagar, se alimentar,
e andar sem rumo
até que seus corações deixem 
de bater. 

Caio Bio Mello
08/09/2015



Nenhum comentário:

Postar um comentário